Vasos de Honra

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

ESTÁ CONSUMADO!


Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica: João 19:28-30

Introdução:  Vamos dar início à nossa reflexão, citando as palavras de um dos nossos hinos: “Ao contemplar a tua cruz e o que sofreste ali, Senhor, sei que não há, ó meu Jesus, um bem maior que o ter amor! – Quero somente me gloriar na tua cruz, meu Salvador, pois morreste em meu lugar! Teu, sempre teu serei, Senhor!” (HNC 262).

Nesse ato de contemplar a cruz de Jesus Cristo, escutaremos uma das sete palavras que Ele fez ouvir enquanto pendurado na cruz, “derramando a sua alma na morte” (Is. 53:12). E, no momento final de seu sofrimento, Ele deu um “grande brado”, anunciando a vitória sobre o pecado: “Está consumado!” (Mc. 15:37). O que foi consumado? A sua missão para redimir e salvar o seu povo foi completamente executada; e, com essa morte substitutiva, as profecias messiânicas no Antigo Testamento se cumpriram. Em diversas ocasiões, Cristo manifestou plena consciência de que veio para cumprir essas profecias. Oferecemos um exemplo. Quando Jesus foi traído, Ele podia ter facilmente escapado de seus inimigos, porém, em vez de fugir, Ele se entregou a eles, dizendo: “Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve suceder? Naquele momento, disse Jesus às multidões: Saístes com espadas e porretes para prender-me, como a um salteador? Todos os dias, no templo, eu me assentava convosco ensinando, e não me prendestes. Tudo isto, porém, aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos profetas. Então, os discípulos todos, deixando-o, fugiram” (Mt. 26:53-56). Citamos mais uma profecia, para podermos sentir  que a obra de Cristo consistia em cumprir as profecias,  Daniel 9:24. “Setenta semanas (simbólicas), estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a transgressão, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia, e para ungir o Santo dos Santos.” Cristo veio para cumprir essas seis determinações.

1. “Para fazer cessar a transgressão”.  Transgressão significa desobediência à  lei revelada por Deus. Essa desobediência é característica de cada ser humano, na qual “todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza, filhos da ira, como também os demais” (Ef. 2:2-3). Cristo veio “para fazer cessar a transgressão” e todos os atos de desobediência. Como  Cristo cumpriu essa profecia? Pelo Espírito, recebemos uma nova natureza; fomos regenerados pela obra expiatória de Jesus Cristo. “Todo aquele que é nascido de Deus, não vive na prática do pecado, pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus” (1Jo.3:9). Nascidos de novo, vivemos unidos com Cristo, e, como ele morreu para o pecado, nós também morremos para o pecado; por isso, o Apóstolo podia dizer: “O pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, e sim da graça” (Rm. 6:14). O Espírito Santo foi dado a fim de aplicar a eficácia da obra santificadora de Cristo em nós e direcionar-nos para o caminho em que devemos andar. Assim, temos a exortação: “Digo, porém, andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne” (Gl. 5:16). Graças a Deus, nós, que estamos em Cristo, podemos experimentar que, de fato, Cristo fez “cessar a transgressão”, rompendo aquele domínio e desobediência habitual.

2. “Para dar fim aos pecados”. Aqui, pecado descreve a nossa imperfeição, “carecemos da glória de Deus” (Rm. 3:23). Não conseguimos glorificá-lo como convém, algo está sempre faltando, por causa do pecado que ainda resta em nossa natureza. Em virtude dessa constante falha, precisamos, continuamente, a misericórdia e o perdão de Deus. Dar fim ao pecado é prendê-lo, como numa prisão de segurança máxima, para que nunca mais seja solto a fim de nos escravizar outra vez. A lembrança dos pecados da nossa mocidade podem nos causar muitas preocupações. Podem, porventura, prejudicar a segurança da nossa salvação? Por isso o Salmista clamava: “Não te lembres dos meus pecados da mocidade, nem das minhas transgressões. Lembra-te de mim, segundo a tua misericórdia, por causa da tua bondade, ó Senhor” (Sl. 25:7). Quando o Senhor perdoa os nossos pecados, eles são apagados e não mais lembrados, (Is. 43:25). Cristo disse: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo. 8:36). Livres, porque Cristo deu fim aos nossos pecados. Ele cumpriu a profecia.

3. “Para expiar a iniquidade”. Iniquidade é a perversão da palavra de Deus. “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detém a verdade pela injustiça” (Rm. 1:18). “Alguns que vos perturbam e querem perverter (deturpar, 2Pe. 3:16), o evangelho de Cristo” (Gl. 1:7). Apesar da seriedade da iniquidade, Deus oferece o seu perdão. Por isso, o salmista exclamou: “Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos” (Sl. 32:1). Foi Cristo que expiou os nossos pecados, levando-os para o esquecimento eterno, tão vividamente demonstrado no Dia da Expiação (Lv. 16:21-22). E, ao cumprir esse simbolismo, Cristo, “carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça” (1Pe. 2:24). Como podemos experimentar a bem-aventurança dessa expiação? “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo. 1:7). Sempre lembramos que Cristo “tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados” (Mt. 9:6; Sl. 130:4,7).

4. “Para trazer uma justiça eterna”. Essa justiça é aquela que Cristo alcançou para o seu povo, mediante a sua obediência imaculada à santa lei de Deus, uma justiça que é imputada a todos que crêem em Jesus Cristo, fazendo-nos aceitáveis diante do tribunal de Deus. “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus” (Rm. 5:1-2). Mas essa justiça não é apenas judicial, ela também se refere ao nosso procedimento. “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2Co. 5:17). Novamente, damos graças a Deus, porque Cristo cumpriu a profecia, e, de fato, trouxe uma justiça eterna para o seu povo.

5. “Para selar a visão e a profecia”. Cristo veio para ab-rogar todo o sistema das leis de sacrifícios usadas no culto do Antigo Testamento; colocou-as fora de uso pelo seu próprio sacrifício. “Jesus, porém, tendo oferecido para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus”, assim, confirmando a suficiência e a eficácia de seu sacrifício. “Porque com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados” (Hb. 10:12,14). Por isso, as repetidas referências sobre a necessidade “que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia” (Lc. 24:46; At. 3:18). “A seguir,  Jesus lhes disse ... importava que cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moises, nos Profetas e nos Salmos” (Lc.24:44). Dessa maneira, Cristo selou “a visão e a profecia”. Nesse sentido, percebemos a total impossibilidade de sermos justificados e salvos pelas obras da lei; porque já foram ab-rogadas. “Quando se diz Nova, torna-se antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer” (Hb. 8:13). Novamente, damos graças a Deus por Cristo Jesus, porque, como o nosso Representante e Substituto, ele cumpriu a lei em nosso lugar.

6. “Para ungir o Santo dos Santos”. No Antigo Testamento, o Santo dos Santos simbolizava a presença de Deus. Era um lugar separado do povo leigo. Contudo, o sumo-sacerdote podia entrar, porém, somente uma vez por ano e sempre com o sangue de um animal sacrificado. Cristo veio para ungir o Santo dos Santos, para que o seu povo pudesse ter pleno acesso a essa  presença. “Quando, porém, veio Cristo como Sumo-sacerdote, ... não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção”. Ele abriu a porta desse lugar sagrado, para que nós, o seu povo redimido, pudesse ter comunhão espiritual com Deus, (Hb. 9:11-12). Agora, veja o convite: “Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, ... aproximemo-nos, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência”, (Hb.10:19-22). Cristo fez referência ao privilégio de entrar na presença de Deus, dizendo: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que onde eu estou, estejais vós também” (Jo. 14:2-3).

Nos seis itens da profecia de Daniel, percebemos a perfeição da obra redentora de Jesus Cristo. Em Tito, capítulo terceiro, temos um resumo deste feito: “Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo a sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador; a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna” (Tt. 3:4-7).   Sim, para o nosso consolo espiritual, vamos lembrar que, quando “Cristo nos amou e a si mesmo se entregou por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave”, Ele cumpriu  todas as promessas proféticas relacionadas à nossa redenção, (Ef. 5:2). “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1Jo. 4:10). Como o nosso Propiciador, Cristo nos encobre com a sua perfeita justiça, para que não sejamos expostos à ira de Deus por causa das nossas muitas desobediências.

Vamos voltar um pouco e meditar sobre as circunstâncias das profecias messiânicas do profeta Daniel. Começamos no início de Gênesis. Quando Adão e Eva pecaram, Deus não os rejeitou definitivamente, antes, Ele se dirigiu a Satanás, o provocador da queda dos nossos pais, dizendo: “Porei inimizade entre ti e a mulher; entre a tua descendência (os seguidores de Satanás) e o seu descendente (o prometido Salvador). Este (o prometido Salvador) te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” ( o que aconteceu durante os sofrimentos de Cristo), (Gn. 3:15). Ele seria reconhecido, não por uma declaração pública, mas, sim, mediante o cumprimento de profecias específicas, como, por exemplo, o seu nascimento virginal: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel” (Is. 7:14). A sua Divindade: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, o governo está sobre os seus ombros; o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is. 9:6). São nomes que pertencem, exclusivamente, à Divindade. E o local de seu nascimento, uma informação especificamente importante para os judeus: “Em Belém de Judá” foi a resposta espontânea dos “principais sacerdotes e escribas do povo” (Mq 5:2; Mt. 2:4-6). E a razão principal da sua vinda: “Para dar a sua vida em resgate por muitos”, (Mc. 10:45).  Em Isaías 53, temos a descrição e o propósito da sua morte: “Mas ele foi transpassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is. 53:5). E, terminamos ouvindo como Cristo se sentiu diante da sua missão: “Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E, começando por Moises, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes  o que a seu respeito contava em todas as Escrituras” (Lc. 24:26). E, quanto à sua vida/morte, disse: “Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai” (Jo. 10:18).

Conclusão: A vida cristã é um ato de fé, uma  confiança sincera na infalibilidade das Escrituras Sagradas, as quais nos dão tudo o que é necessário para termos a certeza da nossa salvação. Quando Cristo deu o grande brado: “Está consumado”, Ele estava anunciando, para que o mundo inteiro pudesse ouvir e crer: o preço da salvação foi pago, não por ouro ou prata, mas, sim, pelo seu sangue precioso. Creia, e seja salvo.


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