Vasos de Honra

domingo, 26 de fevereiro de 2017

O NOSSO TESTEMUNHO FINAL



Leitura Bíblica:  2 Timóteo 4:6-8

Introdução: O Apóstolo estava numa prisão em Roma. Embora não tenhamos todos os detalhes, entendemos que ele foi julgado e condenado à morte. Em vez de ficar choramingando por causa das traições e da injustiça recebida,  ele passou a relembrar sua vida como servo de Deus. Certamente ele podia ter pensado nas experiências  negativas que a vida lhe impôs, porém, não lemos nada sobre as suas tristezas, antes, com coração grato a Deus, ele  lembrou das vitórias em seu ministério, e, agora, pela fé, ansiava por seu encontro com “o Senhor, reto juiz” que lhe daria o prêmio da vitória. No texto lido, temos o relato de como ele entendeu a natureza da morte: “tendo  o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor” (Fp. 1:23). Além dessas conclusões, ele registrou  para a nossa edificação o seu testemunho, palavras finais.

Creio que esta exposição não foi registrada somente para nos informar sobre os últimos dias do Ap. Paulo, antes, foi escrito para a nossa edificação e encorajamento, para que possamos enfrentar o nosso dia final com a mesma atitude de gratidão a Deus por termos sido guardados, amorosamente, a fim de entrarmos vitoriosamente nas moradas eternas. Agora, devemos estar prontos para meditar sobre o  testemunho final, e aprender do exemplo dele.

1. O Apóstolo Olhou para Baixo V.6. O Apóstolo podia contemplar a morte e o túmulo com confiança porque a sua vida foi radicada, edificada e confirmada na obra salvífica  de Jesus Cristo. Essa é a experiência que nos dá uma segurança inabalável na hora da morte. Como é precioso e fortalecedor poder confessar: “Não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito (a minha vida que foi confiada a Ele) até aquele Dia” (2Tm. 1:12).

No testemunho do Apóstolo, uma realidade se destaca de maneira clara e inconfundível: a sua morte seria um ato de culto a Deus. Essa verdade se torna evidente pela referência ao ritual praticado em alguns dos sacrifícios do Antigo Testamento: “Estou sendo já oferecido por libação”. No sacrifício, uma medida de vinho era derramada sobre o animal sendo sacrificado, “como oferta queimada de aroma agradável ao Senhor” (Nm 15:5-10). Ao usar essa figura, o Apóstolo  está dizendo: A minha vida é como aquele vinho que foi derramado sobre o altar de Deus, como um ato de culto ao meu Senhor e Salvador. Semelhantemente, as últimas palavras que Cristo falou quando sofria sobre a cruz foram dirigidas ao Pai, como um ato de culto: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E dito isto, expirou” (Lc. 23:46). A atitude de Estevão, quando estava sendo apedrejado, foi também um ato de culto. Primeiro, cheio do Espírito Santo, viu os céus abertos, e a glória de Deus, e Jesus em pé. Por isso, num ato espontâneo de adoração, disse: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (At. 7:54-60). O Apóstolo Paulo estava seguindo o bom exemplo de muitos de seus antecessores. Devemos lembrar que a nossa morte é uma ocasião quando devemos glorificar a Deus, (Jo. 21:19). Portanto, devemos nos preparar para que a nossa morte seja um momento oportuno para dar o nosso testemunho final. A graça de Deus estará conosco naquela hora.

O Apóstolo continua falando sobre a sua morte iminente, decretada pelo tribunal romano. Mas, por outro lado, ele reconheceu que era o momento preordenado por Deus: “O tempo da minha partida é chegado”. Chegou, porque ele tinha completado a obra que Deus lhe confiara; não tinha mais nada para fazer aqui na terra. Por que a consciência do Apóstolo ficou tão livre de acusações naquela hora tão singular na experiência humana? Embora o seu ministério não tivesse sido perfeito, ele não foi culpado de omissões propositadas. O seu zelo pode ser entendido, quando disse: “Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma” (2Co. 12:16). E, em outro lugar, revelou: “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação: porque ai de mim se não pregar o evangelho” (1Co. 9:16).

Quanto à realidade inescapável da morte, está escrito: “E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois disto, o juízo” (Hb. 9:27). Quando o rei Ezequias adoeceu de uma enfermidade mortal, ele recebeu  esta ordem: “Põe em ordem a tua casa, porque morrerás e não viverás”. Ao ouvir essa palavra, ele “chorou muitíssimo” (2Rs. 20:1-3). Por que esse choro e lamentação? Evidentemente, ele não se sentia preparado para enfrentar o juízo final. Ai da pessoa que se encontrar nesse estado de despreparo no seu dia final! Não é necessário ficar aterrorizado com a notícia da nossa morte, antes, devemos usar a oportunidade para nos preparar para  “por em ordem” a nossa vida espiritual. O Ap. João nos encoraja, dizendo: “Filhinhos, agora, pois, permanecei nele (em Jesus Cristo), para que quando ele se manifestar, tenhamos confiança e dele não nos afastemos envergonhados na sua vinda” (1Jo. 2:28). Portanto, que estejamos preparados para que esse Dia não seja de terror.     

2. O Apóstolo Olhou para Trás, V. 7.   O Apóstolo olhou para trás e passou a meditar sobre os anos de seu ministério, no serviço de seu Senhor e Salvador. Ele menciona três fatos que caracterizaram a sua vida durante o longo dos anos. Ele colocou a sua mão no arado e nunca mais olhou para trás, (Lc. 9:62).

Primeiro, ele meditou sobre o combate espiritual que tinha enfrentado dia após dia. “Combati o bom combate”. A vida cristã é composta de lutas espirituais, forças espirituais que procuram colocar uma pedra de tropeço em nossa vida, a fim de interromper a nossa fidelidade a Jesus Cristo. O Apóstolo enfrentou essas forças e confessou: “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou”, Jesus Cristo (Rm. 8:30). Portanto, essa luta é um “bom combate”, porque é Cristo quem nos dá as vitórias. Esse combate tem três frentes onde somos assaltados: o mundo, a carne e o diabo, Satanás.

  1. A primeira frente é o mundo. Cristo falou sobre os “cuidados do mundo e a fascinação das riquezas” que sufocam o testemunho cristão. Demas, que ajudava o Ap. Paulo em seu ministério, o abandonou e se perdeu, “tendo amado o presente século” (2Tm. 4:10). Não há como conciliar o mundo com a vida cristã. A palavra do Apóstolo é categórica: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1Jo. 2:15). O Ap. Paulo podia confessar: “O mundo está crucificado para mim (o mundo é morto e não tem nada para me oferecer), e, eu, para o mundo (sou morto e o mundo não pode despertar o meu interesse)”.  Não existia nenhuma atração entre os dois, (Gl. 6:14).
  2. A segunda frente é a carne, a nossa natureza pecaminosa. Como cristãos nascidos de novo, o dever constante é não ceder aos desejos pecaminosos. É possível rejeitá-los por causa do Espírito Santo que habita em nós: “Se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo, certamente viverás” (Rm. 8:13). O Apóstolo praticava esta necessidade: “Sabendo isto: foi crucificado com Cristo o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos” (Rm. 6:6).
  3. A terceira frente é o diabo. A advertência é esta: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, o vosso adversário, anda em  derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar”. O nosso dever constante é “resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo” (1Pe. 5:8). O diabo tem uma arma principal para destruir os incautos, a mentira, pois ele é o pai da mentira, (Jo. 8:44). Ele usa a mentira para nos desviar, tanto nas áreas de doutrina, como também nas questões de procedimento. Para ele, não existem padrões, tudo é normal, aceitável e útil para que alcancemos experiências. O segredo é: “Tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis”, prontos para a próxima investida, (Ef. 6:13). O Apóstolo combatia nessas mesmas frentes e experimentou muitas vitórias para a glória de Deus. Nós também podemos ser vitoriosos, porque o nosso socorro vem do Senhor, o nosso Salvador e guia.

Em segundo lugar, ele meditou sobre a sua carreira: “Completei a carreira”. Ele cumpriu toda a vontade de Deus. O Apóstolo usou a figura de uma “pista de corrida”. O atleta tem que começar, obedecer às regras e perseverar até o ponto final, a fim de ser vencedor. Entramos nessa pista mediante a regeneração, e corremos até o fim pelo poder do Espírito Santo. Escrito sobre a nossa camiseta, em letras maiúsculas, está o nosso emblema: “SANTIDADE AO SENHOR”. Todas as nossas atividades nessa “pista de corrida”, sejam seculares, sejam espirituais, são realizadas de acordo com o nosso distintivo. Sem essa santidade, ninguém chegará até o ponto final. Essa pista se chama: “O caminho santo, o imundo não passará por ele, pois será somente para o povo do Senhor” (Is. 35:8). O Apóstolo corria nessa pista e chegou ao ponto final vitoriosamente. E nós, também, seremos vitoriosos, se corrermos de acordo com as regras, isto é, olhando firmemente para Jesus Cristo, o Autor e Consumador da nossa fé (Hb. 12:2).         

Em terceiro lugar, ele meditou sobre a sua fé. “Guardei a fé”. Essa frase admite duas interpretações igualmente necessárias. Primeiro, a fé é vista como aquele corpo de sã doutrina que a Igreja Cristã adota e vive. Ela acredita que esses ensinos estão registrados inerrantemente nas Escrituras Sagradas. Sim, o Apóstolo, apesar de ser tentado a modificar o claro ensino das Escrituras, permaneceu fiel, sem qualquer vacilação. E, a segunda interpretação, a fé, crendo de coração na Pessoa de Jesus Cristo, uma confiança que nos faz entregar a nossa vida a Ele sem qualquer restrição, sabendo que Ele é poderoso para nos salvar totalmente das conseqüências condenatórias do nosso pecado. “Nele, temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” (Ef. 1:7). Mas, devemos lembrar que a fé do Apóstolo continuou inabalável, mesmo no meio de circunstâncias  extremamente difíceis. Quais foram os seus pensamentos no meio daquelas circunstâncias terríveis registradas em 2 Coríntios 11:16-33? Em prisões, em açoites, sem  medida; em perigos de morte, muitas vezes, etc. Mas em cada um desses momentos, jamais questionou a soberania de Deus que direcionava essas dificuldades, antes, confessou: “Que variadas perseguições tenho suportado! De todas, entretanto, me livrou o Senhor”, guardei  a fé, (2Tm.3:11). Ele não deixou circunstâncias adversas sacudirem a sua fé. Antes, sempre grato pelo privilégio de ter “a comunhão dos sofrimentos de Cristo, conformando-se com ele na sua morte” (Fp. 3:10). O Apóstolo guardou a fé, e nós também guardaremos a fé se cultivarmos as mesmas atitudes daquele homem.  Como é bom poder chegar ao fim da nossa vida, confessando: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”. Consolemo-nos com estas palavras: “Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso  trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos santos” (Hb. 6:10).

3. O Apóstolo Olhou para Cima, V8. Ele passou a meditar sobre o futuro, o que iria acontecer depois da sua partida. Ele irradiava uma paz transparente diante da morte, e nem se preocupava com o instrumento que seria usado, porque estava contemplando o galardão. “Já agora a coroa de justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda”. Podemos observar três verdades nesse versículo:

a)      É bíblico cultivar uma certeza da vida eterna e  o que está incluído nessa promessa. O Apóstolo podia  dizer: “Já agora a coroa da justiça me está guardada”. Creio que essa coroa é algo espiritual, um sinal de que temos o direito para tomar posse da vida eterna. O Ap. Tiago disse: “Bem-aventurado o homem que suportar com perseverança a provação (as tentações provocadas pelo mundo, a carne e o diabo), porque depois de ser aprovado (como vencedor), receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam” (Tg 1:12). Cristo disse a mesma verdade: “Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida” (Ap. 2:10). Essa certeza da vida eterna não é dada a qualquer pessoa; a pessoa tem que amar a Cristo de todo coração e viver uma vida santa, de acordo com a imagem de seu Salvador, (Rm. 8:29). Devemos lembrar que a vida eterna não é algo que nós ganhamos por nossos próprios méritos, antes, é o dom gratuito que Cristo nos concede. Veja o processo: “Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo (algo que é sempre purificador), que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida” (Tt. 3:4-7).
b)      É bíblico acreditar no juízo vindouro. “Porque importa que todos nós (crentes e não crentes) compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo” (2Co. 5:10). Este não é um Dia de medo para aqueles que são salvos por Cristo Jesus. Por que? Porque teremos “reto juiz”. Com Ele, não há acepção de pessoas, nem favoritismo, (Rm. 2:11). Ele conhece o povo redimido por seu Filho Jesus Cristo, e cada um desses redimidos serão recebidos com total aprovação e galardoados com a vida eterna.
c)      É bíblico acreditar que entre os redimidos não existem distinções, pois todos são herdeiros da vida eterna. O Ap. Paulo tinha certeza de receber a “coroa da justiça”, mas não esqueceu de  acrescentar: “E não somente a mim (como se fosse alguém melhor), mas também a todos quantos amam a sua vinda”. O fim do mundo será anunciado pela Segunda Vinda de Jesus Cristo. Ele dará a ordem e os vivos e os mortos serão levantados para comparecer perante o tribunal, a fim de que cada um seja julgado de acordo com as suas obras. Naquele Dia, todos receberão  seu lugar na eternidade; os injustos para o castigo eterno e os justos para a vida eterna, (Mt. 25:46).

Conclusão: Todos nós estamos caminhando para a morte, mas, qual será o testemunho que  deixaremos para aqueles que ficam? O Apóstolo Paulo disse, com a alegria de um vencedor: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a  fé”. E, com esse testemunho de vitória, acrescentou com a mesma alegria: “Já agora a  coroa da justiça me está aguardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos  amam a sua vinda”.  Que cada um de nós possamos viver e servir de tal forma que o nosso testemunho final seja tão jubiloso quanto o do Ap. Paulo.


Termino com uma doxologia: “Ora, aquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória, ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém” (Judas, versículos 24 e 25).    

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