Vasos de Honra

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

O NOSSO RESGATE



Leitura Bíblica: 2 Tessalonicenses 2:13-15.

Introdução: Estou usando a palavra “resgate” porque a nossa salvação foi adquirida mediante o pagamento de um preço. O Apóstolo escreveu: “Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a  Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (1Co. 6:20) Fomos resgatados a fim de pertencermos  a Deus. Esta é a salvação: pertencer a Deus, corpo e espírito. Mas qual foi esse bom preço que Cristo pagou? O Apóstolo Pedro responde: “Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (1Pe. 1:18-19).

Nesse contexto, o Apóstolo Paulo escreveu: “Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor”. O nosso resgate deve ser o motivo de agradecimento incessante, porque, através dele, Deus demonstrou o seu amor para conosco. O texto chave ensina: “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação (o que encobre) pelos nossos pecados” (1Jo. 4:10). O texto lido descreve como o nosso resgate aconteceu.

1. A Consecução do nosso Resgate. Quais foram os passos necessários para que o nosso resgate fosse conseguido? Em primeiro lugar, temos que entender o sentido da frase: “Porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação”. A nossa salvação é fruto de uma soberana intervenção de Deus. “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrario, eu vos escolhi a vós outros” (Jo. 15:16). Por que Deus tinha que agir soberanamente a fim de nos salvar? Por sermos pecadores e “mais amigos dos prazeres que amigos de Deus” (2Tm. 3:4), a nossa salvação, mediante a própria escolha, é uma impossibilidade (Mc. 10:23-37). Jamais escolheríamos, voluntariamente, algo que fere a nossa própria vontade. Devemos lembrar: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto: quem o conhecerá?” (Jr. 17:9). O coração corrupto do homem é o seu inimigo mortal, que luta contra qualquer aproximação a Deus. Nesse contexto de impossibilidade espiritual, o Apóstolo  exclama: “Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação”. Não convém fazer perguntas desnecessárias quanto à soberania de Deus na eleição de pecadores, basta  descansar nas palavras de Cristo: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim,  de modo nenhum o lançarei fora ... Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida  eterna” (Jo. 6:37,47).

A segunda frase que temos que entender: “Vos chamou mediante o nosso evangelho”. Vamos ouvir o que o Breve Catecismo da nossa Igreja fala sobre o nosso chamado ou, vocação: “Vocação eficaz é a obra do Espírito Santo, pela qual convencendo-nos do pecado e da nossa miséria, iluminando o nosso entendimento pelo  conhecimento de Cristo, e renovando a nossa vontade, nos persuade e habilita a alcançar Jesus Cristo, que nos é oferecido de graça no evangelho” (Resp. 31). Cada frase deste ensino merece a mais profunda ponderação. Deus nunca revelou com antecedência o seu propósito para salvar um indivíduo mediante a sua soberana eleição, antes, o seu modo de revelar a sua vontade é sempre mediante a livre e irrestrita pregação do evangelho. A nossa primeira responsabilidade é ouvir a palavra da verdade, o evangelho da nossa salvação, e crer em Jesus Cristo, (Ef. 1:13). A promessa é esta: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Rm. 10:9). A nossa compreensão dos propósitos soberanos de Deus vem somente depois de crer, depois de sermos unidos com Ele, pela fé em Cristo. Os tessalonicenses reconheceram a sua eleição somente depois da sua conversão e o abandono de seus pecados. “A firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, reconhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição” (1Ts 1:3-9). Somos exortados a confirmar a nossa vocação (chamado) e eleição. Notemos a seqüência: primeiro, temos que crer em Cristo Jesus, conformando a nossa vida a Ele e, com isso, podemos confirmar a nossa eleição, praticando, espontaneamente, os deveres cristãos, “pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe. 1:3-11).

2. A Constituição do nosso Resgate. O nosso resgate tornou-se reconhecido pela atuação de três verdades inseparáveis: fé na verdade, a salvação e a santificação.

a)      O primeiro passo para reconhecer o nosso resgate é fé na verdade do evangelho de Jesus Cristo. Existem muitas coisas que podem nos dar uma medida de alegria no coração. Mas Cristo disse que a melhor fonte de alegria é a Palavra de Deus. “Bem-aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a praticam” (Lc. 27:28). O Salmista experimentava essa alegria, dizendo: “Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo dia!” (Sl. 119:97). Por que a Palavra de Deus merece tanta prioridade? Porque todas as experiências espirituais começam com o ouvir dessa Palavra, inclusive a própria fé, que “vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo” (Rm. 10:17). Tudo depende da atuação da fé, isto é, crer na realidade de um objeto invisível, pois sem fé é impossível agradar a Deus (Hb. 11:6). A importância da fé (crer) pode ser  reconhecida, conclusivamente, neste versículo: “Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde (uma atitude de incredulidade) contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (Jo. 3:36).
b)      Salvação. O alvo da nossa fé é que obtenhamos “a salvação que está em Cristo Jesus, com eterna glória”. A salvação na Bíblia abrande muito mais  do que a vida eterna. Cristo veio para salvar o seu povo dos pecados deles, (Mt. 1:21). Essa salvação inclui o livramento do domínio escravizador do  pecado mediante uma verdadeira regeneração pelo  poder do Espírito Santo. Quando cremos em Cristo, somos espiritualmente unidos com Ele, participando  de todas as experiências de Cristo quando Ele deu a sua vida em resgate por muitos. O fruto dessa união: “O pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei e sim da graça” (Rm. 6:14). A graça de Deus é um novo princípio de direção atuando em nossa vida, mediante o Espírito Santo que habita em nós. “Digo, porém, andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne” (Gl. 5:16). Sim, a nossa salvação é libertadora e redunde para uma vida abundante em harmonia com a vontade de Deus.
c)      Santificação. Inseparavelmente ligado à nossa salvação, no sentido pleno da experiência, está a nossa santificação, uma vida santa e irrepreensível perante o Senhor. A realidade da nossa salvação se  revela pela santidade da nossa vida. Veja como o Apóstolo descreve essa verdade: “Mas graças a Deus porque outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração, à forma de doutrina a que fostes entregues; e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça”, praticantes do que é reto diante de Deus, (Rm. 6:17-18). O Apóstolo continua dizendo, realçando a realidade da nossa salvação: “Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e,  por fim, a vida eterna; porque o salário do pecado (o que recebemos) é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm. 6:22-23). Podemos resumir a doutrina da santificação citando o ensino do Breve Catecismo da nossa Igreja: “Santificação é a obra da livre graça de Deus, pela qual somos renovados em todo o nosso ser, segundo a imagem de Deus, habilitados a morrer cada vez mais para o pecado e a viver para a retidão” (Resp.35). Devemos lembrar que a santificação é de tal modo necessária, que sem ela ninguém verá o Senhor, (Hb. 12:14).

3. A Consumação do nosso resgate. Por causa do nosso resgate, podemos alcançar “ a glória do nosso Senhor Jesus Cristo”. É o privilégio de poder “ contemplar a sua face” e estar com Ele para sempre; será o ápice da  nossa salvação, (Ap. 22:3-4). Mas, o que significa essa palavra “glória”?  No Novo Testamento, a glória se refere ao caráter imaculado de Jesus Cristo, revelado em seus atributos divinos; e, por causa disso, a sua posição exaltada à destra de Deus. Ele é “o Senhor dos senhores e o Rei dos reis” (Ap. 19:16). E, depois de completar a sua obra redentora, “assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente  nome do que eles” (Hb. 1:3). E, quando lemos o testemunho dos discípulos, percebemos que eles reconheceram algo diferente na pessoa de Jesus Cristo: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do Unigênito do Pai” (Jo. 1:14).Qual foi a glória que os discípulos contemplaram? “A glória como do Unigênito do Pai”. Até certo ponto, eles estavam começando a reconhecer a fulgurância da sua graça e a majestade da sua verdade que se manifestaram em todas as suas obras e palavras; os atributos e a sua Divindade  brilhando através do véu da sua  natureza humana. Em outras palavras, João e os demais discípulos fixaram o seu olhar adorador sobre o que é a possessão natural de Um, cujo nome é: O Unigênito do Pai.

Jesus manifestou a sua glória, o brilho da sua Divindade, nas bodas de Caná, (Jo. 2:11). Ele deu a sua aprovação dos laços matrimoniais. Ele fez conhecido o seu atributo de misericórdia, suprindo as necessidades numa situação possivelmente constrangedora. Assim, Ele é poderoso para suprir todas as necessidades físicas e espirituais do seu povo, para que seja conduzido a Deus, (1Pe. 3:18). O atributo de seu amor se manifestou naquela festa, revelando a sua prontidão para dar tudo gratuitamente. “Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós” (Ef. 5:2). E, finalmente, Ele demonstrou que Ele, de fato, é o Filho de Deus, cheio de graça e de verdade. A sua glória é que Ele é “poderoso para socorrer os que são tentados”, (Hb. 2:18). Ele é o nosso Salvador no sentido mais abrangente possível da palavra.

Na transfiguração, os discípulos, Pedro, João e Tiago, foram privilegiados para ter um relance da glória celestial de Jesus Cristo. O que é que eles contemplaram? “O seu rosto (de Jesus) resplandecia como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz”. E, logo em seguida, ouviram uma voz vinda da nuvem luminosa, que dizia: “Este é o meu Filho amado em quem me comprazo, a ele ouvi” (Mt. 17:1-8). A transfiguração teve, entre outras razões, um duplo propósito:
a)      Para preparar Cristo, o nosso Mediador e Substituto, para enfrentar, com coragem, tudo o que era necessário para resgatar o seu povo da sentença condenatória da lei, a saber: um julgamento, cruel e injusto, e, finalmente, depois de ser brutalmente açoitado, foi crucificado, como se fosse o pior dos criminosos. “Todavia, ao Senhor, agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado (...) foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu”  (Is. 53:10,12). Nesse contexto, apesar do aparente abandono, a transfiguração deu a Cristo não apenas o apoio total do Pai, mas, também, a experiência da glória que o aguardava.
b)      Para fortalecer e confirmar a fé desses três discípulos, e, indiretamente, da Igreja, quanto à verdadeira identidade de Jesus Cristo como Filho Unigênito do Deus vivo e verdadeiro.

Em João capítulo 17, Jesus fez repetidas referências à sua glória eterna. Em sua oração ao Pai, Ele disse: “Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste a fazer; e agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (Vs. 4 e 5). Vamos ouvir outra parte comovente dessa oração: “Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo” (V.24). Em resposta a essa oração, fomos resgatados para alcançarmos “a glória de nosso Senhor Jesus Cristo”. E, com certeza, veremos  como o Pai atende os pedidos de seu Filho. 

E, nesse meio termo, o testemunho de Cristo perante o Sinédrio, que estava no processo de condená-lo à morte por crucificação. Diante de seus juízes, Ele falou da sua Segunda Vinda com poder e muita glória, dizendo: “Eu vos declaro  que, desde agora, vereis o Filho do homem assentado à direita do Todo-poderoso e vindo sobre as nuvens do céu” (Mt. 26:64). Devemos cultivar a mesma esperança dos tessalonicenses, que aguardavam a vinda do Filho de Deus, que ressuscitou dentre os mortos, sabendo que Ele nos livrará da ira vindoura, (1Ts.1:10). Naquele dia, alcançaremos “a glória do nosso Senhor Jesus Cristo”, e teremos toda a eternidade para descobrir mais e mais, a glória da sua Pessoa, mediante os seus atributos divinos.

Conclusão: Temos visto como Cristo conseguiu o nosso resgate e o que foi constituído como resultado. E, para a consumação do nosso resgate, alcançaremos, de uma maneira mais completa, a glória do nosso Senhor Jesus Cristo. Agora, munidos com essa esperança, o Apóstolo nos exorta: “Assim, pois, irmãos, permanecei firmes e guardai as tradições  que vos foram ensinadas, seja por palavra (a pregação do evangelho) ou epístola nossa” (V.15). A perseverança, mesmo no meio de tribulações, é de suma importância, porque, sem ela, jamais alcançaremos o alvo, a salvação da nossa vida. Como o Apóstolo confessou, e o que nós devemos imitar também: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Rm. 8:18). “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo com ele é” (1Jo. 3:2).   


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