Vasos de Honra

terça-feira, 6 de setembro de 2016

CONSAGRAÇÃO A DEUS




Leitura Bíblica: Romanos  12:1-2.

Introdução: No início da Carta aos Romanos, o Apóstolo confessou: “Pois sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes; por isso, quanto está em mim, estou pronto a anunciar o evangelho também a vós outros, em Roma” (Rm. 1:14-15). Em outro lugar, ele explicou esse sentimento: “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar; pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho” (1Co. 9:16). O evangelho é o tema principal dessa Carta, uma mensagem que fala das misericórdias que Deus tem derramado tão liberalmente sobre o seu povo. Nos capítulos 1 a 11, podemos achar algumas dessas dádivas, por exemplo: bondade, um atributo que desperta em nós anseios espirituais, tais como “arrependimento”, 2:4. Paciência, Ele “suportou com muita longanimidade” os pecadores, 9:22. Amor, “o amor de Deus foi derramando em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado”, 5:5. Graça, o dom gratuito de Deus. “ No tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça”, 11:5. Justificação, “Justificados, pois (declarados inocentes porque fomos encontrados vestidos das virtudes do Filho de Deus), temos paz com Deus por meio do nosso Senhor Jesus Cristo”, 5:1.

Agora, tendo ouvido sobre algumas das misericórdias, estamos prontos para entender como o Apóstolo aplica essas dádivas à nossa vida, visando uma consagração total da nossa vida a Deus, como uma manifestação  da nossa gratidão a Ele. 

1. A Instigação (incentivo) que Promove a Consagração. O Apóstolo dá início a esta parte, fazendo um apelo forte: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus”. O fato de termos recebido da mão de Deus tantas manifestações da sua misericórdia, sentimos que somos os seus devedores. O Salmista experimentou esse mesmo sentimento, e exclamou: “Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?” Jamais conseguiremos pagar a Deus tudo o que Ele nos dá, contudo, podemos oferecer-lhe o nosso culto em atos públicos e particulares. Por isso, o Salmista prometeu: “Cumprirei os meus votos ao Senhor na presença de todo o seu povo” (Sl. 116:12-14). A única retribuição que Deus aceita de nós, é o nosso culto racional, um ato planejado e realizado “em espírito e em verdade” (Jo. 4:23-24). Quando os tessalonicenses se converteram, eles abandonaram o seu antigo modo de agir, a fim de servirem o Deus vivo e verdadeiro, (1Ts. 1:9). A conversão e o recebimento do perdão de todos os nossos pecados deve nos conduzir à consagração e a uma vida de obediência. É como Cristo disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo. 14:15). E Ele acrescentou: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei; que também vos ameis uns aos outros” (Jo. 13:34).

E, para nos instigar ainda mais para consagrar a nossa vida a Deus, o Apóstolo nos mostra como Deus o Pai tem nos “abençoado com toda sorte de benção espiritual nas regiões celestiais em Cristo”. Quais são essas bênçãos que conduzem a nossa vida a uma consagração total? Eleição: “Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante o nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por nós”. ( 1Ts. 5:9-10). Adoção: Fomos resgatados da lei, que nos condenou à morte, “a fim de que recebêssemos a  adoção de filhos” (Gl.4:5). Redenção: Fomos tirados do império das trevas e transportados para o reino de Cristo, (Cl. 1:13). Remissão:  O perdão de todos os nossos pecados. “Quanto dista o Oriente do Ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões” (Sl. 103:12). Salvação:  “Entretanto,  devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação” – a vida eterna na  presença consoladora de Deus, (2Ts. 2:13). O Selo do Espírito Santo:  Ele é “o penhor (a garantia) da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em  louvor da sua glória” (Ef. 1:14). “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus”. (Rm. 8:16). Por essas e tantas outras bênçãos que Deus  tem nos dado gratuitamente, o Apóstolo fez este apelo: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que vos apresenteis o vosso corpo” a Deus em total consagração.

2. A Instauração (começo) que Promove a Consagração. O Apóstolo estava consciente da sua vida anterior, mas,  apesar de tanta insolência, ele podia confessar: “Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade” (1Tm. 1:13). Agora, ele exorta os seus leitores: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus (aquela misericórdia por ter sido perdoado), que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional”.  Quando alguém nasce de novo, quando está sentindo a alegria de entender que todos os seus pecados foram graciosamente perdoados, nasce no coração dele a necessidade de oferecer a totalidade da sua vida ao seu Salvador, dizendo: “Eis aqui estou  para fazer, ó Deus, a tua vontade” (Hb. 10:9). Consagração, portanto, é um ato espontâneo e a primeira manifestação do amor e gratidão que sentimos em favor de Deus. “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e  andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou  a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave” (Ef. 5:1-2).

 Consagração é possível somente depois de um verdadeiro encontro salvador com Jesus Cristo. Existem  membros  em nossas Igrejas que nunca foram convencidos de seus pecados e nem da necessidade de serem nascidos de novo, porque, como dizem: sempre fomos cristãos. Essas pessoas não gostam de serem exortadas a uma vida consagrada a Deus. Estão plenamente satisfeitas com sua vida descomprometida, e não querem nada diferente. O jovem se desculpa, dizendo: Vou pensar sobre esse assunto mais tarde; preciso aproveitar a minha mocidade! Mas o tempo passa e ele continua adiando uma decisão. Com certeza, o seu  fim será semelhante ao das cinco virgens néscias, que resolveram agir quando a porta já estava fechada, (Mt. 25:1-13). Ou, o homem mais maduro, que promete: quando eu me aposentar da minha profissão secular, consagrarei a minha vida ao serviço de Deus. Mas, com esta idade, o corpo está cansado e a saúde debilitada; além disso, seus costumes já estão profundamente estabelecidos e não aceitarão a mudança que a consagração exige. Deus pede de nós um corpo vivo, cheio de disposição e pronto para qualquer serviço. Esse é o nosso culto racional e agradável a Deus. Não podemos procrastinar, aguardando um tempo mais oportuno. Na vida da Igreja sempre existem oportunidades para servir a Deus. Podemos pensar no presbiterato e no diaconato, professores para a Escola Dominical, sem esquecer das atividades que as sociedades internas oferecem. Mas alguém reclama: Eu não tenho dom para nada dessas coisas! Contudo, serviço a Deus não depende exatamente das nossas próprias capacidades. A nossa suficiência vem de Deus. Cristo nos deu esta promessa: “Mas recebereis poder, e sereis as minhas testemunhas” (At. 1:8). A nossa parte é apresentar o nosso corpo e todas as suas capacidades a Deus, e Ele nos dará a devida oportunidade. Importa que tenhamos vidas consagradas a Deus e uma disposição para servir.

3. A Instância (súplica) que Promove a Consagração. E, para que a nossa consagração seja autêntica, somos exortados: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente”. De modo geral, a “mente”  deste século  é o anseio de satisfazer todos os desejos do próprio egoísmo, a qualquer custo, mesmo que sejam uma transgressão da lei de Deus. Essa mentalidade mundana é perigosamente contagiante, por isso, a advertência: “E não vos conformeis com este século”. Temos que ser firmes, resistindo às ciladas sutis deste mundo.

Consagração envolve a respeitosa obediência aos Dez Mandamentos. O mundo ensina, e o nosso próprio coração também, que estes não são relevantes para o homem moderno, oferecendo uma infinidade de oportunidades que procuram  subverter a seriedade da lei de Deus. Esse desprezo do Mandamento é  visto especificamente na transgressão do Quarto Mandamento. O mundo ensina, e o nosso próprio coração também, que o Domingo não é do Senhor, como a Bíblia ensina, antes, é do  homem, e deve ser usado para satisfazer os seus próprios interesses: viagens, esportes, divertimentos, ociosidade, etc. Eis aqui como o Dia deve ser observado, juntamente com uma promessa encorajadora: “Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia; e chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs (palavras não edificantes), então, te deleitarás no Senhor. Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra (fora do alcance de perigo - Dt. 33:16) e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai, porque a boca do Senhor o disse” (Is. 58:13-14). Sim, Deus abençoou e santificou o Seu Dia; e no guardá-lo, há uma promessa de sustento diferenciado.

Mas, como podemos guardar os Mandamentos, e, especificamente, o Quarto? Temos que nos submeter à transformação pela renovação da nossa mente. A mente humana é o centro do nosso raciocínio, dela procedem todas as nossas determinações, seja qual for a natureza delas. O Salmista confessou: “Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti” (Sl. 119:11). E, para colocar essas palavras no coração, temos que ler a Bíblia atenciosamente todos os dias, memorizando as palavras chaves para que elas habitem em nosso coração. Dessa maneira, estaremos crescendo na graça e no conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, estaremos experimentando uma transformação em nossa mente que nos conduzirá a uma verdadeira consagração pessoal a Deus. “E todos nós, com rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em  glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” (2Co. 3:18). Consagração, ou seja, dedicação  à prática da vontade de Deus, deve ser o  grande anseio de cada cristão.

4. A Instrução (convite) que Promove a Consagração. Qual é o propósito dessa transformação pela renovação da nossa mente? Eis a resposta: “Para que experimenteis qual seja  a boa, agradável e  perfeita vontade de Deus”.  É possível dar a essas três  palavras descritíveis este sentido: Tudo o que é bom, tudo que é agradável, e tudo o que é perfeito, encontra-se somente no conhecimento e na prática da vontade revelada de Deus. O mundo se esforça para oferecer substitutos para despertar a imaginação vaidosa do homem, porém, eles sempre decepcionam. O pregador experimentou esses atrativos fictícios, porém, teve que concluir: “Pelo que aborreci a vida, pois me foi penosa a obra que se faz debaixo do sol; sim, tudo é vaidade e correr atrás do vento” (Ec. 2:17).  Deus coloca diante de nós  muitas opções: vida e morte, benção e maldição, para depois nos desafiar: “Escolhe, pois, a vida, para que vivas” (Dt. 30:19). Mas o pecador, em sua cegueira espiritual, não quer reconhecer a diferença ente a vida e a morte, entre a benção e a maldição. Seu único interesse é satisfazer os seus desejos do momento, porque ama “mais as trevas do que a luz” (Jo. 3:19). A nossa oração deve ser: “Ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus; guie-me o teu bom Espírito por terreno plano” (Sl. 143:10). Essa oração é necessária “para que vos conserveis perfeitos e plenamente convictos em toda a vontade de Deus” (Cl. 4:12).

A vontade de Deus deve ser o objetivo principal na vida do cristão, porque ela é boa, agradável e perfeita, e digna de ser praticada. Ela é a lei de Deus para a santificação do homem, pois “ é santa, justa e boa” (Rm. 7:12). Devemos confiar na sabedoria de Deus, pois Ele sabe o que o homem mais precisa. Veja como o Salmista interpretava essa norma: “A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma; o testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos simples. Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento de Senhor é puro e ilumina os olhos. O temor do Senhor é límpido e permanece para sempre; os juízos do Senhor são verdadeiros, e todos igualmente justos”. E qual foi o efeito desse juízo sobre a sua mente renovada? Ele confessou: “são mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos. Além disso, por eles se admoesta o teu servo; em os guardar há grande recompensa” (Sl. 19:7-11). Por que estamos falando dessa maneira? Para que a  prática da vontade de Deus seja o anseio ardente do nosso coração.
     

 Conclusão: Nós, que temos sido abençoados “com toda sorte de benção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Ef. 1:3), devemos nos sentir constrangidos  a retribuir a Deus, dando-lhe a nossa vida em total consagração a seus interesses. “Ou desprezas a riqueza da bondade, e da tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz” à transformação do seu modo de agir e uma atitude mais decisiva que engrandece o nome de seu Deus. Essa consagração é o nosso “culto racional”, uma devoção  que dá honra a Deus. Mas, para a que a nossa consagração seja verdadeira, o texto instrui: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente” por meio da leitura diária das Escrituras Sagradas. E, com a nossa mente agora renovada, estamos dispostos para ouvir e entender os conselhos do Senhor e experimentar que, de fato, a vontade de Deus para a nossa vida é boa, agradável e perfeita, própria para a nossa total felicidade. Consagração a Deus sempre precede qualquer serviço que possamos oferecer a Ele. “Ora, o Deus da paz que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança, vos aperfeiçoe  em todo  o bem, para cumprirdes  a sua vontade, operando em vós o que é agradável diante dele, por Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém” (Hb. 13:20-21).      

A VIDA TEOLÓGICA DO PASTOR




Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica: 1Timóteo 4:6-16;

Introdução:  Em 1921, Casper Wisper Hodge escreveu: “Se olharmos dentro do nosso próprio coração, podemos descobrir que a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida estão, sorrateiramente, se esforçando para reassumir o seu antigo domínio sobre a nossa vida”. E, nesse contexto, o Apóstolo nos admoesta: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (V.16).

Nesse versículo, duas verdades estão implícitas: primeira, a salvação dos nossos ouvintes, bem como a nossa própria, depende da veracidade da doutrina recebida; e, a segunda, os nossos ouvintes, bem como nós mesmos, perdemos a alegria da salvação quando uma doutrina deficiente é ensinada e adotada. Tito foi exortado a ficar “apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino, como para convencer os que o contradizem” (Tt. 1:9). 

Diante desses dois perigos, o Apóstolo faz um apelo urgente: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina”. Por causa da tendência pecaminosa  que ainda resta em cada um de nós, temos, por exemplo: o pecado da leviandade, permitindo que as verdades divinas sejam tratadas sem a devida seriedade; o pecado da indolência, quando o estudo da Palavra não recebe a devida prioridade; o pecado do pragmatismo, quando os resultados são mais importantes do que os meios utilizados. Uma Igreja cheia de pessoas que não têm uma noção salvífica  do plano da salvação não redunde para a glória de Deus. Precisamos  praticar um cuidado consciente com  aquilo que estamos comunicando à Igreja, para  que seja de acordo com a sã doutrina. Por causa de negligências no preparo das mensagens, é  possível  prejudicar aquele a favor de quem  Cristo morreu (Rm. 14:15). Assim, percebemos que a salvação dos nossos ouvintes também depende do nosso preparo teológico. Seguindo o ensino do texto lido, escolhemos três disposições indispensáveis para a formação da nossa vida teológica.

1. A Importância da Piedade, Vs. 6-8. O nosso objetivo, como pastores, é este: “Ser um bom ministro de Cristo Jesus, alimentado com as  palavras da fé e da boa doutrina”. Eis a exortação: “Exercita-te pessoalmente na piedade (...) a piedade para tudo é proveitosa”. Piedade  significa esforçar-se para ser irrepreensível não somente diante de Deus, mas também do nosso  próximo. Cornélio, em Atos 10, exercia a sua  piedade desta forma: era temente a Deus e orava continuamente; ensinava a sua família a  temer a Deus; cuidava do seu próximo fazendo muitas esmolas ao povo; e cuidava da sua própria vida espiritual, pronto e desejoso de ouvir a Palavra de Deus. Jó é outro exemplo dessa piedade, homem íntegro, reto e que se desviava do mal (Jó. 1:1). E o nosso texto nos oferece estas características de uma vida piedosa: “Torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza”. O Apóstolo Paulo desafiava os seus leitores, dizendo: “Sede os meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1Co. 11:1).

Piedade não é algo que surge sem a prática de hábitos regulares. Temos que nos aplicar à leitura e ao estudo das Escrituras Sagradas, todos os dias, como um ato de culto a Deus. A ordem é: “Exercita-te, pessoalmente, na piedade”. O Apóstolo Pedro nos encoraja: “Empenhai-vos por serem achados por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis” (2Pe. 3:14). Temos que aprender a praticar a abnegação: “Desembaraçando-vos de todo peso (coisas desnecessárias que impedem o nosso livre desempenho na prática da vontade de Deus) e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta” (Hb. 12:1). Temos que ser cuidadosos com as nossas amizades e com o que ouvimos e falamos, lembrando-nos da advertência: “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes” (1Co. 15:33). Até certo ponto, ninguém fica ileso da influência negativa  da convivência moderna, pois ela pode opacificar o nosso testemunho cristão. Repetimos a urgência do apelo do Apóstolo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina”. Tem cuidado para praticar uma vida piedosa. E qual o proveito de exercitar-nos na prática dessa piedade? Ela “tem a promessa da vida que agora é e da que há de vir”. A promessa de comunhão espiritual com Deus; o amor de Deus derramado em nosso coração pelo Espírito Santo; e a paz de Deus que excede todo o entendimento, não apenas para o presente, mas, sim, para toda a eternidade.  

2. A Importância de Singularidade, Vs. 9-12. Singularidade no exercício do ministério, uma ação que não pode ser compartilhada com as filosofias modernas. “Ordena e ensina  estas coisas”, coisas bíblicas. Observem os dois verbos: ordenar e ensinar. Ordenar significa impor com autoridade, uma  autoridade que provém da clara exposição das Escrituras Sagradas. Ordenar é impedir a circulação  de “fábulas profanas”; proibir a entrada de “espíritos enganadores e o ensino de demônios”. Parece que o Apóstolo estava prevendo os tempos modernos! A Igreja não pode ser permitida a cultivar a mentalidade dos atenienses. “Pois todos os de Atenas, e os estrangeiros residentes, de outra coisa não cuidavam senão dizer ou ouvir as últimas novidades” (At. 17:21). Ensinar é colocar o material em ordem sistemática para que as propostas sejam devidamente assimiladas e praticadas pelos ouvintes. Esse modo de ensinar é de suma importância  para que a Igreja tenha “as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal” e o que fere os ensinos bíblicos, (Hb. 5:14).  Ensinar para que Igreja possa discernir a diferença entre  os conceitos populares e as verdades bíblicas que comunicam a vida eterna. E, para isso, é necessário alimentar a Igreja “com as palavras da fé e a boa doutrina”. Temos que confiar no poder efetível  da Escritura Sagrada. Por meio dela, Deus realiza todos os seus propósitos entre os homens.

É importante  tomar conhecimento  das cinco “palavras fiéis” que se encontram nas “Cartas Pastorais”: (1Tm. 1:15; 3:1; 4:8-9; 2Tm 2:11-13; Tt 3:4-8). Elas são súmulas de verdades e princípios bíblicos. Veja V.9 da nossa leitura: “Fiel é a palavra e digna de inteira aceitação”. Qual é essa palavra fiel? Aquela do V.8, que fala sobre a particularidade de uma vida piedosa. “Pois o exercício  físico para pouco é proveitoso, mas a piedade para tudo é proveitosa, porque tem a promessa da vida que agora é e da que há de ser”. O servo de Deus não pode ser contador de lorotas jocosas quando deve estar explicando as Escrituras Sagradas. Ele tem que ser totalmente singular em suas atitudes diante de Deus. Às vezes os pastores são criticados por causa de seu modo irreverente para apresentar a sua mensagem. Ele não é um animador de emoções, antes, tem que ser inteiramente singular em suas atitudes espirituais, um “obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem  a palavra da verdade” (2Tm. 2:15). Sem essa singularidade na prática da piedade, o pastor perde a sua autoridade no ensino da palavra, e, pior ainda, o nome de Deus é blasfemado em pleno culto público, por causa dessa insensibilidade espiritual. O salmista cultivava a atitude correta: “arrepia-me a carne com temor de ti, e temo os teus juízos” (Sl. 119:120).

3. A Importância da Biblicidade, Vs. 13-16.  No V.13, temos os três elementos indispensáveis no culto público: Reconhecemos que existem  outros, mas, aqui, o Apóstolo está ressaltando estes três. “Aplica-te à leitura”. Não esquece o lugar das Escrituras Sagradas no Culto a Deus.  Qual a razão dessa ênfase? Reconhecemos que o único contato que muitas pessoas das nossas Igrejas têm com a Palavra de Deus, é o que ouvem nos cultos dominicais, visto que poucas lêem a Bíblia diariamente em culto doméstico. Portanto, nessas leituras públicas, os ouvintes devem se sentir exortados pelo que Deus está  dizendo  sobre as suas vidas morais e espirituais. Além disso, o povo tem que receber o ensino que conduz ao conhecimento da natureza de Deus  e ao que Ele requer de cada um de nós. Devemos  lembrar que o fim principal do culto público é que Deus seja glorificado e que a Igreja seja encaminhada, encorajada e fortalecida para viver uma vida santa e irrepreensível, uma vida que revela a realidade de Cristo em nós. Um exemplo prático desse culto se encontra em Neemias 8:5-8: “Ezdras abriu o Livro à vista de todo o povo (...). Leram no Livro, na lei de Deus, claramente, dando explicações, de maneira que entendessem o que se lia”. Creio que essas explicações foram interpoladas durante a leitura. E quando palavras técnicas, tais como justiça, redenção, perdão e santificação foram encontradas, um breve esclarecimento de cada uma foi dado.

No V.14, o pastor é incentivado a reavivar o dom que Deus lhe deu para pastorear o seu rebanho. O uso da frase, “não te faças negligente”, significa uma consagração diária, dizendo: “Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade” (Hb. 10:9). Essa consagração se torna ainda mais necessária, pois o dom foi reconhecido publicamente “com a imposição das mãos do presbitério”.

No V.15, temos que ser diligentes quanto ao cuidado da nossa vida espiritual, para que o nosso crescimento “a todos seja manifesto”. Temos que “crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe. 3:18). Por que a ênfase sobre esse desenvolvimento espiritual? Eis uma resposta que o Apóstolo nos deu: “Para que tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado” (1Co. 9:27). O Pastor tem que tornar-se “padrão dos fiéis” em termos de diligência, cuidando para que a sua diligencia espiritual  seja observada por todos.

No V.16, temos mais uma exortação e, com esta, uma promessa encorajadora foi anexada. Quando atendemos ao conteúdo desse conselho, a promessa será cumprida. É evidente que o pastor que não sabe como cuidar da sua própria vida espiritual não estará apto para pastorear a vida de outros. Nesse contexto, temos a admoestação: “tem cuidado de ti mesmo e da doutrina”. Cuidar de nós mesmos significa que temos que selecionar os livros (ou o que se encontra na Internet), que devem alimentar, positivamente, a nossa vida espiritual. O Apóstolo nos faz lembrar: “um pouco de fermento leveda toda a massa” (Gl. 5:9). Ou a advertência: “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes” (1Co. 15:33). Por causa do pecado que ainda resta em nós, podemos ser influenciados pelo alimento que não produz o temor de Deus e nem uma vida santa e irrepreensível. E, quando o pastor está sendo influenciado negativamente, ele oferecerá o mesmo alimento à sua Igreja para a debilitação daqueles “a favor de quem Cristo morreu” (Rm. 14:15) Mas, por outro lado, se ele cuidar da sua própria vida espiritual com livros (ou o que se encontra na Internet), cuidadosamente escolhidos, terá a experiência da promessa: “Salvará tanto a si mesmo como aos seus ouvintes”.

“Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto! – diz o Senhor” (Jr. 23:1). Portanto, temos que cultivar “o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”, que disse: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (Fp. 2:5; Jo. 10:11). Então, qual é o nosso dever, dia após dia? “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2Tm. 2:15).

Conclusão: Terminamos confessando que o pastor tem o ofício mais sublime que um homem mortal pode exercer: ministrar em Nome do Senhor. Porém, isso envolve uma responsabilidade quase insuportável, fazendo o Apóstolo exclamar: “Quem, porém, é suficiente para estas coisas?” (2Co. 2:16). Por que este ministério compreende tamanha responsabilidade? Porque estamos direcionando vidas, vidas imortais que podem passar a eternidade, ou no céu ou no inferno. Mas a sublimidade do ministério do pastor é que ele é encarregado de pregar o evangelho, a mensagem que conduz pecadores a arrependerem-se e a entregarem-se a Jesus Cristo, de quem recebem o perdão de todos os seus pecados, juntamente com a promessa de vida eterna.

Por isso, o nosso ministério tem que ser caracterizado por uma piedade pessoal, servindo de modelo, tendo uma vida moral e espiritual irrepreensível diante de Deus. Temos que praticar uma singularidade em nosso ministério, sem qualquer mistura com conceitos populares, pois o nosso objetivo é ordenar e ensinar o Nome santo do nosso Deus. Temos que praticar uma biblicidade que edifica não apenas a nossa própria vida, mas também a vida do povo de Deus que depende da nossa fidelidade às Escrituras Sagradas. O Ap. Paulo nos deixa com a palavra final: “Expondo estas coisas aos irmãos serás bom ministro de Jesus Cristo”. Amém