Vasos de Honra

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O VASO DO OLEIRO


Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica: Jeremias 18:1-6.

Introdução: Deus usava muitas maneiras para comunicar sua mensagem a seus profetas. Nesta leitura, Jeremias foi instruído: “Dispõe-te. E desce à casa do oleiro e lá ouvirás as minhas palavras”. E, chegando lá, ele viu o oleiro “entregue à sua obra sobre as rodas”. Estava terminando um vaso já, mas, por alguma razão, o vaso de barro “se lhe estragou na mão”. Mas o oleiro não se desanimou, pois, com o mesmo barro, “tornou a fazer outro vaso, segundo bem lhe pareceu”. Agora, tendo visto o trabalho do oleiro, o texto acrescentou: “Então, veio a Jeremias a palavra do Senhor”. E, a partir dessa experiência, nasceu uma mensagem.

Assim como no Novo Testamento as parábolas de Jesus tinham que ser interpretadas pelos ouvintes, Jeremias tinha que descobrir, com o auxílio do Espírito Santo, a mensagem que o povo precisava ouvir. Portanto, a figura do oleiro com seu barro é usada diversas vezes, em ambos os testamentos. O oleiro representa o próprio Deus, e o barro em suas mãos representa a humanidade, criada “do pó da terra” (Gn. 2:7). O primeiro vaso foi perfeito, porém, quando o pecado entrou na peça original, ela ficou “estragada”. O efeito desse pecado corrompeu a massa toda, isto é, todos os descendentes de Adão. Contudo, Deus não ficou frustrado  em seus propósitos, pois com o mesmo barro, mediante a regeneração, Ele criou um novo homem, para a sua glória eterna. O Ap. Paulo usou esse tema para exaltar a soberania de Deus. Como o oleiro tinha liberdade para usar o mesmo barro para fazer outro vaso, segundo bem lhe pareceu, assim, Deus tem a mesma liberdade. Se Deus não tivesse usado a sua soberania, o pecado teria levado toda a humanidade para a morte eterna. “Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixado descendência, ter-nos-íamos tornado como Sodoma e semelhantes a Gomorra” (Rm. 9:29). Devemos sentir a maravilha de termos sido alcançados com as boas novas da salvação. Vamos seguir a sugestividade que o oleiro e o seu barro nos oferecem.

1. O Vaso Estragado:  Sabemos “que Deus fez o homem reto,  mas ele se meteu em muitas astúcias” (Ec. 7:29). No Jardim do Éden, ainda em seu estado de inocência, o homem extrapolou a sua liberdade, comendo o fruto proibido, (Gn. 3:17). Assim, o pecado, o sofrimento e a morte entraram na vida da humanidade.

A Confissão de Fé da nossa Igreja comenta sobre esse assunto doloroso: “Por este pecado eles (Adão e Eva) decaíram de sua retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma”. Mas a conseqüência do pecado não se limitou a Adão e Eva. Por isso, a Confissão de Fé acrescenta: “Sendo Ele (Adão e Eva) o tronco de toda a humanidade, o delito de seus pecados foi imputado a seus filhos; e a mesma morte em pecado, bem como a sua natureza corrompida, foram transmitidas a toda a posteridade, que deles procede por geração ordinária”. A Confissão continua, agora, descrevendo a conseqüência dessa herança negativa:  “Desta corrupção original, pela qual ficamos totalmente indispostos, incapazes e adversos a todo bem e inteiramente inclinados a todo mal, é que procedem todas as transgressões atuais”. É de suma importância que reconheçamos a duração da corrupção. A Confissão explica: “Esta corrupção da natureza persiste durante esta vida, (inclusive) naqueles que são regenerados; e embora seja ela perdoada e mortificada por Cristo, todavia tanto ela como os seus impulsos são real e propriamente  pecado” (Conf. de Fé, VI. II a V). Creio que ninguém pode, honestamente, negar a veracidade desse ensino esclarecedor das Escrituras Sagradas. Ou, se restar ainda uma dúvida quanto à realidade dessa corrupção moral e espiritual, basta ouvir o que os meios de comunicação estão dizendo, pois eles corroboram o ensino bíblico. Não apenas essa evidência externa, mas olhando dentro da nossa própria vida, somos constrangidos a reconhecer a presença dessa mesma tendência pecaminosa.

Os povos do mundo inteiro estão pedindo paz e segurança, contudo, tais bênçãos jamais serão alcançadas enquanto o pecado estiver em plena manifestação. A Bíblia assevera: “Para os perversos, diz o meu Deus, não há paz” (Is. 57:21). Quando Deus  anunciou o seu propósito para castigar o povo de Israel, eles, atrevidamente, responderam: “Não há esperança”, Deus está perdendo o seu tempo, “porque andaremos consoante os nossos projetos, e cada um fará segundo a dureza de seu coração maligno” (Jr. 18:12). Ao comentar sobre o poder do pecado na vida do homem, Cristo disse: “O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más” (Jo. 3:19). Mas, apesar dessa perversidade, o pecado pode se tornar um peso insuportável. Davi experimentou esse fardo: “Laços de morte me cercaram, e angústias do inferno se apoderaram de mim; caí em tribulação e tristeza” (Sl. 116:3). Estamos prontos agora para ouvir sobre:

2. O Vaso Estafado. Apesar de sentir o peso estafante da sua condição, ele não está disposto a lançar a culpa sobre os pecados que pratica. Alguém lhe deu este conselho: o seu problema é a falta de uma religião em sua vida; busque uma Igreja qualquer! Com essa palavra, ele logo descobre uma Igreja que lhe agrada e lá participa das atividades religiosas que dão uma certa medida de tranqüilidade interior. À semelhança de Judas Iscariotes, escuta com paciência as pregações da Palavra de Deus, anda na companhia de outros cristãos, e assume algumas responsabilidades na vida da Igreja. Mas, apesar da sua religiosidade, ele continua praticando seus pecados prediletos. E, quando ele percebe uma oportunidade, surrupia dinheiro da bolsa do grupo. Afinal ele revela a sua natureza pervertida (traindo o Senhor por trinta moedas de prata). Sim, Judas ficou cheio de remorso por causa de seu ato infame. Mas remorso não é arrependimento. Finalmente, o pecado triunfou sobre ele, levando-o ao suicídio. Qual a lição? Religião, por si só, não salva ninguém.

Outro conselho muito popular é: faça as boas obras da lei, como Deus ordena, e todos os seus problemas serão resolvidos! Mas a lei não salva a ninguém; o seu propósito é outro. “Ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”(Rm. 3:20). Em vez de tranqüilizar o coração aflito, aumenta o peso da sua culpabilidade e condenação, porque o pecador não consegue cumprir as normas da lei com a perfeição que a santidade de Deus requer. Os judeus perderam a esperança da salvação por causa desse conselho infeliz. “Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus. Por que o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê” (Rm. 10:3-4). Quais são os dois erros principais desse conselho traiçoeiro? Ele ensina o pecador a rejeitar (inconscientemente) a justiça e a salvação que vem de Deus gratuitamente; e, a  desprezar a Pessoa e a Obra de Jesus Cristo. Quando uma pessoa procura estabelecer a sua própria justiça e salvação, a conclusão não pode ser outra: tal pessoa não sente nenhuma necessidade de reconhecer o dom gratuito de Deus, nem da obra redentora de Jesus Cristo. Feliz a pessoa que se sente retalhada no coração por causa de seus pecados e constrangido a clamar das profundezas de seu coração: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm. 7:24). Estamos prontos, agora, para ouvir sobre:

3. O Vaso Estabelecido. Religião não salva, nem santifica ninguém. E, da mesma forma, a prática das obras da lei não pode justificar o pecador diante de Deus,  pois “por obras da lei ninguém será justificado” (Gl. 2:16).  Então, como pode o vaso estragado ser estabelecido? Primeiramente, ele tem que se humilhar e acreditar nesta declaração decisiva: “Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há salvação. Eu anunciei salvação, realizei-a e a fiz ouvir” (Is. 43:11-12). O que é imprescindível para cada pecador é um verdadeiro encontro regenerador com o único Salvador, Jesus Cristo. O profeta vociferava: “Convertei-vos, pois, cada um do seu mau proceder e emendai os vossos caminhos e as vossas ações” (Jr. 18:11). E o Senhor Jesus advertia: “Eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependeres, todos igualmente perecereis” (Lc. 13:3). A Confissão de Fé da nossa Igreja define o arrependimento com estas palavras: “O pecador, pelo arrependimento, de tal maneira sente e aborrece os seus pecados que, deixando-os, se volta para Deus, tencionando e procurando andar com ele em todos os caminhos de seus mandamentos” (Conf. De Fé, Cap. XV.II). Notemos os cinco passos necessários para que o arrependimento seja verdadeiro: a) Ele não apenas sente a realidade do pecado em sua vida, mas aborrece a presença dele em todo o seu procedimento. b) Ele abandona cada um de seus pecados e, na medida do possível, tudo o que provoca a prática deles. c) Ele volta para Deus, tencionando e procurando andar com Ele em todos os caminhos de uma verdadeira santidade. d) E, implícito no reconhecimento do nosso pecado está a  confissão a Deus de todos os pecados conhecidos, lembrando  que cada pecado tem um nome específico. Fazemos isso na plena certeza de que nele há o perdão dos pecados, “pois, no Senhor há misericórdia; nele, copiosa redenção. É ele quem redime o seu povo de todas as suas iniqüidades” (1 Jo. 1:9; Sl. 130:7-8). e) A frase, “ele se volta para Deus”, fala da necessidade indispensável de uma fé inabalável na Pessoa e Obra de Jesus Cristo, descansando na suficiência da sua morte substitutiva na cruz do Calvário. “E o testemunho é este: que Deus nos deu  vida eterna; e esta  vida está no seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida” (1Jo. 5:11-12). Sim, o nosso destino na eternidade é decisivo; não existe nenhuma outra opção. Agora, “Aquele que diz que permanece nele (em Jesus Cristo), esse deve andar assim como ele andou” (1Jo. 2:6). Dessa maneira, o vaso será estabelecido. Estamos prontos, agora, para ouvir a:

Conclusão:  A figura do oleiro fazendo vasos de barro tem muitas lições espirituais. O oleiro representa Deus e o barro, que foi uma única massa, feita do pó da terra, representa como o homem foi criado. Em seu estado original, ele foi dotado com uma perfeita justiça, retidão e pleno conhecimento, segundo a imagem daquele  que o criou, (Ef. 4:24; Cl. 3:10). O vaso estragado representa a entrada do pecado na vida de toda a humanidade. É importante observar como o oleiro tomou o barro do vaso estragado e fez outro vaso “segundo bem lhe pareceu”. O pecado não frustrou o propósito de Deus na  criação do homem.


Sobre essas verdades, desenvolvemos os três pontos da nossa mensagem. Falamos sobre o Vaso Estragado, ou seja, a entrada do pecado na vida da humanidade. Por causa do ato de desobediência, toda a humanidade tornou-se morta em pecado e inteiramente corrompida em todas as suas faculdades e partes do corpo e alma. Assim, cada pessoa passou a ser mais amiga dos prazeres que amiga de Deus (2Tm. 3:4). Falamos sobre o Vaso Estafado. Às vezes, o homem fica estafado por causa de seus pecados que ele insiste  em praticar. Nesse estado, ele pode adotar uma religião na esperança de ganhar algum alento; ou, pode tentar uma auto-justiça pelas prática  de boas obras. Mas, nem a religião e nem as boas obras podem oferecer uma tranqüilidade na sua consciência, se continuar servindo os prazeres pecaminosos da carne. Tal frustração pode levar o homem a lamentar: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm. 7:24). Por isso, falamos sobre o Vaso Estabelecido. Devemos dar muitas graças a Deus porque Ele não abandonou o barro do vaso estragado, antes, Ele o tomou, e, pela regeneração, fez “um novo homem, criado segundo Deus em  justiça e retidão procedentes da verdade” (Ef. 4:24). Tomamos  posse dessa realidade pela fé em Jesus Cristo, “no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua glória” (Ef. 1:7). Que Deus nos ajude a entender, crer e praticar essas verdades bíblicas, porque elas podem nos tornar sábios para a salvação pela fé em Jesus Cristo  

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

CONFORTO CRISTÃO


Rev. Ivan G. G. Ross

A nossa leitura vem do Catecismo de Heidelberg, a pergunta e a resposta número um. Esse Catecismo foi formulado em 1563, aproximadamente 83 anos antes do Breve Catecismo da nossa Igreja Presbiteriana. Notemos que a ênfase desta pergunta introdutória nos aponta para o conforto espiritual do cristão. Outro ponto interessante nesse Catecismo é que todas as perguntas são dirigidas a um indivíduo no singular da terceira pessoa: “Qual é o seu conforto?”. E este sempre responde na primeira pessoa do singular: “O meu único conforto é”. Vamos ouvir a leitura do Catecismo para o nosso estudo.

Pergunta: “Qual é o seu único conforto na vida e na morte?”

Resposta: “O meu único conforto é que – corpo e alma, na vida e na morte – não pertenço a mim mesmo, mas ao meu fiel Salvador, Jesus Cristo, que ao preço de seu próprio sangue pagou totalmente por todos os meus pecados e me libertou completamente do domínio do pecado. Ele me protege tão bem que, contra a vontade de meu Pai, no céu, não perderei nem um fio de cabelo. Na verdade, tudo coopera para o meu bem e para a minha salvação. Portanto, pelo seu Espírito Santo, Ele me garante a vida eterna e me torna disposto a viver para Ele daqui em diante, de todo o coração”.

A fim de facilitar a compreensão da resposta, dividimos o assunto em quatro pontos acessíveis.

1. Conforto na Profissão. Estamos professando qual é o nosso conforto espiritual. “O meu conforto é que – corpo e alma, na vida e na morte – não pertenço a mim mesmo, mas ao meu fiel Salvador, Jesus Cristo”. Observamos o que o Catecismo está afirmando:

O nosso ser é composto de duas partes identificáveis: corpo físico e alma invisível. Em todas as nossas atividades e atitudes, essas duas partes estão presentes. Para amar o Senhor, nosso Deus, temos que usar essas duas partes; somos uma unidade. Com o corpo, realizamos os desejos da alma. Assim, somos exortados para apresentar o nosso corpo vivo, santo e agradável a Deus, que é o nosso culto racional (Rm. 12:1). Juntamente com o nosso corpo, manifestamos o desejo da nossa alma. “Servi ao Senhor com alegria (com o que a alma sente), apresentai-vos diante dele (corpo e alma) com cânticos” (Sl. 100:2). Culto a Deus sempre envolve a totalidade do nosso ser, corpo e alma.

E, semelhantemente, o nosso ser tem duas experiências: vida e morte; temos um início e teremos um dia final. Portanto, os interesses desta vida devem estar nos conduzindo e nos preparando para a morte que está se aproximando, inexoravelmente. Mas, depois da morte, o quê? E, assim como aos homens está ordenado a morrerem uma só vez, vindo depois disto, o juízo”(Hb. 9:27). Por causa da morte e do juízo vindouro, entendemos a razão da pergunta: “Qual é o seu único conforto na vida e na morte?”. Aquele que crê em Jesus Cristo como o seu Salvador, pode responder, confiantemente: “O meu único conforto  é que ... não pertenço a mim mesmo, mas ao meu fiel Salvador, Jesus Cristo”.  A nossa vida não está em nossas próprias mãos, que jamais poderiam nos salvar, mas, sim,  na mão do nosso fiel Salvador, que garantiu às suas ovelhas: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão e ninguém as arrebatará da minha mão” (Jo. 10:28). Eis o conforto que temos em Cristo Jesus.

2. Conforto na Provisão. Estamos falando sobre o conforto que a providência de Deus, em Jesus Cristo, nos oferece. Qual é a base da nossa confiança em Jesus Cristo como nosso fiel Salvador? Confiamos na provisão e suficiência da sua morte substitutiva, “que ao preço de seu próprio sangue pagou totalmente por todos os meus pecados”.  O Ap. Pedro afirma: “Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que os vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (1Pe 1:18-19). A doutrina da nossa redenção é indizivelmente preciosa, porque, como pecadores, pertencíamos ao senhor das trevas, a  saber, o diabo; mas Cristo interveio e pagou o preço do nosso livramento. Por isso, o Catecismo enfatiza: “Não pertenço a mim mesmo (e nem às trevas), mas, ao meu fiel Salvador, Jesus Cristo”.  Agora, qual é o nosso dever? O Apóstolo  responde: “Porque fostes comprados por preço,  agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo” (1Co. 6:20). Mas, devemos fazer mais uma pergunta: Qual é a eficácia moral e espiritual do sacrifício de Jesus Cristo? O Catecismo responde: Que Cristo “me libertou completamente do domínio do pecado”. O Catecismo não está dizendo que fomos libertados do pecado a ponto de não pecarmos mais, antes, está falando sobre o domínio, a tirania do pecado. Antes do nosso encontro libertador com Cristo, o domínio, a presença do pecado, caracterizava a totalidade do nosso procedimento; “ a concupiscência (ambições) da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida” (1Jo. 2:16). Éramos “mais amigos dos prazeres do que de Deus” (2Tm. 3:4). Mas desta escravidão, Deus “nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho de seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados” (Cl. 1:13-14). Nesse novo estado, o domínio, o controle do pecado, perdeu a sua força; por isso, o Apóstolo podia afirmar: “Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei e sim da graça” (Rm. 6:14). Um novo princípio, a graça de Deus, está operando em nós. O Apóstolo explicou: “Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isto é, Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós,  que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm. 8:3-4). Por causa do Espírito que habita em nós, o pecado não tem domínio, não tem controle absoluto sobre nós. “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm. 8:14). Sim, as providências de Deus em nosso favor são uma fonte de conforto espiritual.

3. Conforto na Proteção. Esta proteção é espiritual e não necessariamente física; embora Deus fosse servido, em muitas ocasiões, ter nos libertado de diversos perigos, (At. 12:11). O Apóstolo no conforta, dizendo: “Sois guardados pelo poder de Deus, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo” (1Pe. 1:5). E, para garantir essa proteção espiritual, o Catecismo afirma: “Deus me protege tão bem, que, contra a vontade de meu Pai no céu, não perderei nem um fio de cabelo”. Quando Cristo falou sobre essa proteção, o contexto foi de perseguição, traições e morte física. Sim, todas essas coisas podem acontecer aos fiéis a Deus, porém, somente com a sua soberana permissão. Uma das doutrinas que temos de aprender e aceitar, com um coração agradecido, é a soberania de Deus. Ele é o Rei de toda a terra. Ele se assenta no seu santo trono,  controlando, soberanamente, todos os movimentos dentro dos reinos (Sl. 47:6-9). Quando conseguimos acreditar nessa verdade, o nosso coração se enche cheio de conforto e de gratidão.

O Catecismo continua  falando sobre o conforto espiritual  que a soberania de Deus nos confere: “Na verdade tudo coopera para o meu bem e a minha salvação”. Vejam como o Apóstolo fala sobre a mesma  verdade: “Sabemos que todas as coisas cooperam  para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm. 8:28). Com essa certeza na soberania de Deus, o Apóstolo podia desafiar qualquer pessoa a responder o  contrário: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas ao matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores por meio daquele que nos amou” – Jesus Cristo, (Rm, 8:35-37). Mas, antes de terminar, devemos mencionar algo sobre as restrições desse texto em Romanos. O fato de que todas as coisas, boas ou ruins, cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que pertencem única e exclusivamente a Ele, significa que essa promessa, de necessidade, exclui os que não pertencem a Deus, que não crêem em Jesus Cristo. Quando as coisas negativas acontecem aos descrentes, em vez de cooperarem para o bem deles, elas os preparam para vislumbrar o juízo vindouro. O nosso conforto espiritual fica enriquecido sabendo que o Senhor “distingue para si o piedoso” (Sl. 4:3).

4. Conforto na Promissão. A promessa do Espírito Santo é mais uma verdade preciosa que contribui para o nosso conforto espiritual, porque é Ele que “me garante a vida eterna”. Como? “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” – e, portanto, herdeiros da vida eterna, (Rm. 8:16-17). Somos ensinados que o Espírito Santo é o nosso Consolador. Ele nos consola, dirigindo-nos a Jesus Cristo, no qual temos toda a nossa suficiência. “Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim” (Jo. 15:26). Ele é, também, o nosso Auxiliador, aquele que está ao nosso lado para nos assistir “em nossa fraqueza, porque não sabemos orar (e nem realizar qualquer outro ato em nosso culto e serviço a Deus) como convém” (Rm. 8:26). Quando temos oportunidade para testemunhar da nossa fé em Cristo, nem sempre sabemos o que falar, mas, novamente, o Espírito Santo  traz à nossa memória o que convém falar, (Mc. 13:11).E, em nossa luta contra o assédio do pecado, o Espírito Santo está ao nosso lado para nos auxiliar a sufocar a tentação. “Porque se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis” (Rm. 8:13). Enfim, é o Espírito Santo que nos conforta e auxilia em todas as áreas da nossa vida, para que alcancemos  um padrão santo e irrepreensível.

O Catecismo nos mostra mais uma promessa preciosa: “O Espírito Santo... me torna disposto a viver para Ele daqui em diante, de todo o coração”. O Apóstolo descreve essa disposição usando estas palavras: “Quanto a vós outros, todavia, ó amados, estamos persuadidos das coisas que são melhores e pertencentes à salvação, ainda que falamos desta maneira. Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos santos. Desejamos, porém, continue cada um de vós, mostrando, até ao fim, a  mesma diligência para a plena certeza da esperança, para que não vos torneis indolentes, mas imitadores daqueles que pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas” (Hb.6:9-12). A chave dessa disposição: “Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne” (Gl. 5:16). É o Espírito Santo que nos torna dispostos a viver e a perseverar na vida cristã. Por isso, o Apóstolo orava a Deus “para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior” (Ef. 3:15). Certamente poderíamos falar muito mais sobre o ministério do Espírito Santo na vida  dos que são redimidos pelo sangue de Jesus Cristo, mas temos que aguardar outra oportunidade.

Conclusão: O ministério dos Catecismos das Igrejas Reformadas tem ajudado e enriquecido a vida espiritual do povo de Deus na compreensão das Escrituras Sagradas. Que possamos valorizar a herança espiritual  que a Reforma do Século XVI nos legou. O Breve Catecismo da nossa Igreja, em sua primeira pergunta, fala do nosso dever diante de Deus e responde: “ O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo (ter prazer nele) para sempre”. E a primeira pergunta do Catecismo de Heidelberg fala sobre o conforto espiritual que temos em Cristo Jesus. “O meu único conforto é que – corpo e alma, na vida e na morte – não pertenço a mim mesmo, mas ao meu fiel Salvador, Jesus Cristo”. Observemos a seqüência nas respostas destes dois Catecismos: primeiro, o  cumprimento do nosso dever para com Deus, e a recompensa será um conforto, uma certeza em nossa experiência espiritual, na vida e na morte. Esse conforto pode ser traduzido em termos de paz. “Todos os  filhos serão ensinados pelo Senhor; e será grande a paz de seus filhos” (Is. 54:13). Lembrando de uma maneira especifica que Jesus Cristo “ é nossa paz” (Ef. 2:14).


quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

AMOR – Um Caminho Sobremodo Excelente


Leitura Bíblica: 1Coríntios 13:1-13

Introdução: Em nossos dias, não faltam exortações para amar uns aos outros. Todo mundo sabe que devemos praticar esta obrigação básica, para que haja paz em todos os setores da nossa sociedade. Contudo, parece que ninguém consegue praticar esse dever com a devida perfeição. Por que é tão difícil amar uns aos outros? Porque para amar, como a Bíblia nos ensina, temos que estar dispostos a dar a própria vida em favor do nosso irmão. Cristo praticou esse tipo de amor, dando a sua vida em favor de seu povo. “Nisto conhecemos o amor: que Cristo  deu a sua vida por nós; e devemos dar a nossa própria vida pelos irmãos” (1Jo. 3:16). Eis o problema que  impede a devida prática desse amor. Alguns, talvez, estejam prontos para auxiliar em alguma causa, porém, não a ponto de dar a própria vida. Por causa do pecado que habita em nós, tornamo-nos radicalmente egoístas.  Queremos viver a nossa vida de acordo com os nossos próprios impulsos egoístas. O Apóstolo descreve esta característica, dizendo: “Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes”,  e segue-se uma lista longa das manifestações desse egoísmo, (2Tm. 3:1-5). Somente o poder regenerador e renovador do Espírito Santo pode subjugar essas tendências egoísticas  que assediam o ser humano. Mas, regenerados, temos o poder necessário para amar uns aos outros. Qual é a melhor evidência de que somos nascidos de novo? “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus” (1Jo. 4:7). Vamos seguir as explicações que o Apóstolo nos dá em 1Coríntios, capítulo 13.

1. A Perfuração do Amor, Vs. 1-3 (sofreu um desfalque). O Apóstolo começa  explicando o seu propósito: “Eu passo a oferecer-vos ainda  um caminho sobremodo excelente”. E esse caminho que temos que trilhar tem uma só direção, a prática de um amor que não admite nenhum outro rival, um amor que envolve a totalidade do nosso ser. O padrão é este: “O principal é: Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” (Mc. 12:30-31).

O Apóstolo cita cinco atos, que são atividades do culto que oferecemos ao nosso Deus, porém, mostrando como eles podem ser usurpados por falsos obreiros, e, portanto, ficar perfurados e esvaziados de seu valor diante de Deus, porque não são realizados com o devido amor. Cada ato em nosso serviço espiritual deve ser feito “como ao Senhor”, sem qualquer mistura de ambições pessoais. O escritor Judas fala de uma tendência repreensível entre muitos homens, especialmente aqueles que têm responsabilidades públicas: “São aduladores dos outros por motivos interesseiros” (Jd.16). Não são manifestações de um amor sincero, antes, são dissimulações feitas  para fins interesseiros. Os dons de Deus não são necessariamente retirados quando usados para fins gananciosos, podem impressionar os ouvintes, porém, não são abençoados por Deus, porque não são utilizados com amor e nem para a glória de Deus. Veja os exemplos oferecidos pelo Apóstolo.

a)      Línguas, o dom de comunicação verbal, pode soar com eloqüência, como se fosse a voz de anjo, mas sem o toque do amor, pode ecoar “como o bronze que soa ou como o címbalo que retine”, bonito para ouvir, porém de pouco valor, porque não tem a unção do amor. Pastores têm que ser cuidadosos para não confiar, indevidamente, na suficiência de seus dons, porque podem excluir o amor aos ouvintes.
b)      Profetizar, o dom de proclamar os oráculos de Deus. E, para exercer este ministério, é importante um bom conhecimento de “todos os mistérios e toda a ciência”; porém, pode ser anulado, quando usado para fins pessoais. O Apóstolo Paulo tinha o dom da profecia, contudo, ao entrar em Corinto, ele confessou que não foi enviado para expor a sua cultura, “mas para pregar o evangelho; não com sabedoria de palavras, para que se não anule a cruz de Cristo” (1Co. 1:17). Não convém misturar  a pregação com exibicionismo, antes, deve ser a manifestação de um amor sincero aos ouvintes.
c)      Fé é um dom de suma importância, porque, sem ela “é impossível agradar a Deus”, porém, pode ser usada inapropriadamente como os demais dons de Deus. Em nossos dias, muita coisa estranha é praticada em nome de fé. Existe até um jornal cujo título é: “Show da Fé”, que publica os milagres que estão acontecendo. Contudo, devemos questionar a espiritualidade dessas apresentações, porque a Bíblia nos adverte: “Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o  amor de verdade para serem salvos” (2Ts. 1:9-10). Cristo também nos advertiu  sobre o perigo desse tipo de fé, dizendo: “Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mt. 24:24). Fé, sem o acréscimo do amor, pode conduzir à perdição, lembrando que, nesse contexto, o falso profeta não produz os seus sinais como uma manifestação de amor, antes, é o oposto, ele usa a esperteza para iludir os incautos.
d)       Boas obras, a distribuição dos bens pessoais, podem impressionar, porém, quando feito sem um amor sincero aos pobres, não vale de nada. Os fariseus praticavam a distribuição de esmolas, só para serem vistos pelos homens, e não por um amor aos necessitados, (Mt. 23:5). É o amor não fingido que dá sentido às nossas contribuições.
e)      E, por fim, a dádiva máxima, a entrega  da própria vida em serviço ao próximo, pode dar a aparência de dedicação, porém, quando dada somente para perpetuar o seu nome entre os heróis, ou por outros motivos interesseiros, não tem valor algum; porém, quando dada com a mesma atitude do Ap. Paulo, sim, tem valor, porque Deus é glorificado. Eis a disposição do Apóstolo: “Porém, em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus” (At. 20:24). Essa é a linguagem de um amor singular e uma dedicação que almeja somente a glória de Deus. Que tenhamos o mesmo amor.

2. A Percepção do Amor, Vs 4-7. O Apóstolo  acabou de falar de uma triste realidade: é possível usar os dons de Deus por motivos de auto-promoção. Essa prática foi reconhecida no tempo dos Apóstolos e condenada, porque não era uma manifestação do amor cristão. Apesar dos sinais e milagres, não é necessariamente uma prova de que o operador é um servo de Deus. Sobre esse assunto, Cristo comentou: “Muitos naquele dia (do juízo vindouro), hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade” – os que praticais sinais em nome da fé, sem amor a Deus e sem amor aos que assistem os seus trabalhos, (Mt. 7:22-23).

Por isso, o Apóstolo passa a descrever, de uma maneira precisa, a natureza do amor que identifica o verdadeiro servo de Deus. Com quinze palavras escolhidas, somos instruídos quanto à abrangência desse amor que temos que demonstrar em todas as nossas atividades e atitudes pessoais. Sete dessas palavras têm um sentido positivo, o amor é; e oito, um sentido negativo, o amor não pratica: O amor não convizinha com atitudes negativas.

a)      As atitudes Positivas: (01) O amor é paciente, podendo suportar adversidades sem sentir mágoa ou desejo de vingança. (02) O amor é benigno, bondoso, não apenas fazendo o bem, mas busca oportunidade para consolar os entristecidos. (03) O amor regozija-se com a verdade, tem prazer em apoiar os obreiros que têm a mensagem bíblica e evangélica. (04) O amor tudo sofre, suportando com paciência os adversários e perdoando as suas maldades. (05) O amor tudo crê. O amor não destrói a prudência, visto que a mentira é prática comum; porém, temos que acreditar na sinceridade do irmão quando ele faz uma afirmação quanto ao seu procedimento. (06) O amor tudo espera. Temos que nutrir esperanças positivas quando vemos um irmão novo na fé lutando  contra o assédio do pecado. (07) O amor tudo suporta, porque “o amor cobre todas as transgressões “ (Pv. 10:12).
b)      As atitudes Negativas: (01) O amor não arde de ciúmes, não se magoa ao ver a prosperidade de seu vizinho ímpio, enquanto ele, que teme a Deus, permanece com o mínimo. (02) O amor não se ufana, não fica envaidecido por causa de seus dons espirituais. (03) O amor não se ensoberbece quando eleito como oficial na Igreja. O diabo caiu por causa desse pecado, (1Tm. 3:6). (04) O amor não se conduz inconvenientemente. O oficial, bem como os demais membros da Igreja, têm  que apresentar uma vida santa e irrepreensível, sem  a qual ninguém verá o Senhor. (05) O amor não procura os seus interesses, não ofende os outros no anseio de garantir os seus próprios direitos. “Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros” (Fp. 2:4). (06) O amor não se exaspera, não se irrita ou se enfurece por causa dos erros de um irmão inexperiente na fé. (07) O amor não se ressente do mal, não fica acusando precipitadamente o seu vizinho que possivelmente agiu com ingenuidade. (08) O amor não se alegra com a injustiça, quando esta é dirigida inadvertidamente contra um irmão que é ainda fraco na fé. A disciplina eclesiástica tem que ser cuidadosa nesse ponto. Sim, a justiça imparcial é necessária e, quando praticada no temor do Senhor, regozijamo-nos com a prevalência da verdade, O amor é tão abrangente que temos de usar o domínio próprio em cada área da nossa vida. O amor é o caminho sobremodo excelente, porém, tem que ser praticado.

3. A Permanência do Amor, Vs 8-12. Nestes versículos, o Apóstolo está nos conduzindo do presente para o futuro, ou enquanto estamos na terra, podemos vislumbrar algumas realidades no céu. O Apóstolo começa esta parte falando sobre a permanência do amor. Tudo passa, porém o amor continua. Devemos lembrar que o amor cristão, que agora temos, é o dom de Deus; e Ele mesmo nos instruiu  quanto ao seu uso: “Deveis amar-vos uns aos outros” (1Ts.4:9). E, por ser o dom de Deus, é irrevogável, portanto, continuará sendo uma parte inseparável do nosso caráter na eternidade celestial, “ O amor jamais acaba” (Rm. 11:29).

Cremos que o amor continuará na eternidade porque “Deus é amor”. Porém, muitas outras coisas que foram  importantes  aqui na Terra, desaparecerão no porvir. O Apóstolo fala de três itens que não terão utilidade no céu:

a)      “Havendo profecias, desaparecerão”. Profecias, a pregação do evangelho, a fim de arrebanhar todos os que são redimidos pelo Senhor, não terão mais sentido, visto que todos os que iriam ser salvos, já estão na glória.
b)      “Havendo línguas cessarão”. Línguas, a causa de tantas dificuldades na área da comunicação, será definitivamente resolvida no céu, porque haverá uma única linguagem, que o próprio Deus usará para falar com o seu povo redimido. E os habitantes no céu? “Então, darei lábios puros (linguagem pura) aos povos, para que todos invoquem o nome do Senhor e o sirvam de comum acordo” (Sf. 3:9).
c)      Havendo ciência, passará”. Ciências humanas, que são indispensáveis para o nosso bem estar aqui na terra, não terão valor no céu, porque as nossas necessidades serão diferentes. Na vida celestial, estaremos ocupados aprendendo, de uma maneira mais precisa, “qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm. 12:2).

Tudo na Terra tem as suas limitações, “porque em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos (dando instruções). Quando, porém, vier o que é perfeito (o encerramento do mundo conhecido e a entrada na glória), então, o que é em parte será aniquilado”. Aguardemos, ansiosamente, a vinda do que é perfeito.

O Apóstolo nos traz de volta para enfatizar uma das responsabilidades mais prementes, enquanto  peregrinamos rumo aos céus: a necessidade de “crescer na graça e no conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe. 3:18). Veja como o texto expressa essa necessidade: “ Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino”. A criança passa o seu tempo brincando, nada tem importância senão o seu próprio prazer; porém, chegando os anos de maturidade, tem que enfrentar as responsabilidades da sua idade. Existem cristãos que ficam como crianças, vivendo na imaturidade. Mas o Senhor pede de cada um de nós que procuremos “progredir, para a edificação da Igreja” (1Co. 14:12). O escritor lamentava do estado espiritual dos cristãos hebreus: “Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os principais elementos dos oráculos de Deus; assim vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido. Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades  exercitadas para discernir não somente o bem mas também o mal” (Hb. 5:12-14). As nossas limitações do presente não devem ser usadas para justificar a nossa indolência  espiritual. O Profeta lamentava, dizendo: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta conhecimento” (Os. 4:6). Sim, reconhecemos a nossa letargia em progredir espiritualmente; porém, não fiquemos desanimados e nem omissos no anseio de  adquirir mais conhecimento da graça de Deus. “Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conhecemos em parte; então, conhecerei como também sou conhecido”. Novamente, anelamos aquele “então”, quando seremos livres para louvar a Deus para todo o sempre, sem as limitações desta vida.

Conclusão: A Persistência do Amor. O Apóstolo termina deixando-nos contemplar os três grandes pilares da vida cristã, enquanto aguardamos a nossa entrada no céu: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor”. A fé não terá mais necessidade, porque estaremos contemplando as realidades espirituais face a face. Semelhantemente, a esperança não terá mais sentido, porque estaremos vivendo o pleno cumprimento das promessas que alimentaram a nossa perseverança. No céu, estaremos vivendo as perfeições do amor, porque é ele que persiste depois de deixar esta vida a fim de entrarmos no céu, onde estaremos contemplando, adoravelmente, o rosto do nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. Amém.