Vasos de Honra

terça-feira, 6 de setembro de 2016

A VIDA TEOLÓGICA DO PASTOR




Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica: 1Timóteo 4:6-16;

Introdução:  Em 1921, Casper Wisper Hodge escreveu: “Se olharmos dentro do nosso próprio coração, podemos descobrir que a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida estão, sorrateiramente, se esforçando para reassumir o seu antigo domínio sobre a nossa vida”. E, nesse contexto, o Apóstolo nos admoesta: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (V.16).

Nesse versículo, duas verdades estão implícitas: primeira, a salvação dos nossos ouvintes, bem como a nossa própria, depende da veracidade da doutrina recebida; e, a segunda, os nossos ouvintes, bem como nós mesmos, perdemos a alegria da salvação quando uma doutrina deficiente é ensinada e adotada. Tito foi exortado a ficar “apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino, como para convencer os que o contradizem” (Tt. 1:9). 

Diante desses dois perigos, o Apóstolo faz um apelo urgente: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina”. Por causa da tendência pecaminosa  que ainda resta em cada um de nós, temos, por exemplo: o pecado da leviandade, permitindo que as verdades divinas sejam tratadas sem a devida seriedade; o pecado da indolência, quando o estudo da Palavra não recebe a devida prioridade; o pecado do pragmatismo, quando os resultados são mais importantes do que os meios utilizados. Uma Igreja cheia de pessoas que não têm uma noção salvífica  do plano da salvação não redunde para a glória de Deus. Precisamos  praticar um cuidado consciente com  aquilo que estamos comunicando à Igreja, para  que seja de acordo com a sã doutrina. Por causa de negligências no preparo das mensagens, é  possível  prejudicar aquele a favor de quem  Cristo morreu (Rm. 14:15). Assim, percebemos que a salvação dos nossos ouvintes também depende do nosso preparo teológico. Seguindo o ensino do texto lido, escolhemos três disposições indispensáveis para a formação da nossa vida teológica.

1. A Importância da Piedade, Vs. 6-8. O nosso objetivo, como pastores, é este: “Ser um bom ministro de Cristo Jesus, alimentado com as  palavras da fé e da boa doutrina”. Eis a exortação: “Exercita-te pessoalmente na piedade (...) a piedade para tudo é proveitosa”. Piedade  significa esforçar-se para ser irrepreensível não somente diante de Deus, mas também do nosso  próximo. Cornélio, em Atos 10, exercia a sua  piedade desta forma: era temente a Deus e orava continuamente; ensinava a sua família a  temer a Deus; cuidava do seu próximo fazendo muitas esmolas ao povo; e cuidava da sua própria vida espiritual, pronto e desejoso de ouvir a Palavra de Deus. Jó é outro exemplo dessa piedade, homem íntegro, reto e que se desviava do mal (Jó. 1:1). E o nosso texto nos oferece estas características de uma vida piedosa: “Torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza”. O Apóstolo Paulo desafiava os seus leitores, dizendo: “Sede os meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1Co. 11:1).

Piedade não é algo que surge sem a prática de hábitos regulares. Temos que nos aplicar à leitura e ao estudo das Escrituras Sagradas, todos os dias, como um ato de culto a Deus. A ordem é: “Exercita-te, pessoalmente, na piedade”. O Apóstolo Pedro nos encoraja: “Empenhai-vos por serem achados por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis” (2Pe. 3:14). Temos que aprender a praticar a abnegação: “Desembaraçando-vos de todo peso (coisas desnecessárias que impedem o nosso livre desempenho na prática da vontade de Deus) e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta” (Hb. 12:1). Temos que ser cuidadosos com as nossas amizades e com o que ouvimos e falamos, lembrando-nos da advertência: “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes” (1Co. 15:33). Até certo ponto, ninguém fica ileso da influência negativa  da convivência moderna, pois ela pode opacificar o nosso testemunho cristão. Repetimos a urgência do apelo do Apóstolo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina”. Tem cuidado para praticar uma vida piedosa. E qual o proveito de exercitar-nos na prática dessa piedade? Ela “tem a promessa da vida que agora é e da que há de vir”. A promessa de comunhão espiritual com Deus; o amor de Deus derramado em nosso coração pelo Espírito Santo; e a paz de Deus que excede todo o entendimento, não apenas para o presente, mas, sim, para toda a eternidade.  

2. A Importância de Singularidade, Vs. 9-12. Singularidade no exercício do ministério, uma ação que não pode ser compartilhada com as filosofias modernas. “Ordena e ensina  estas coisas”, coisas bíblicas. Observem os dois verbos: ordenar e ensinar. Ordenar significa impor com autoridade, uma  autoridade que provém da clara exposição das Escrituras Sagradas. Ordenar é impedir a circulação  de “fábulas profanas”; proibir a entrada de “espíritos enganadores e o ensino de demônios”. Parece que o Apóstolo estava prevendo os tempos modernos! A Igreja não pode ser permitida a cultivar a mentalidade dos atenienses. “Pois todos os de Atenas, e os estrangeiros residentes, de outra coisa não cuidavam senão dizer ou ouvir as últimas novidades” (At. 17:21). Ensinar é colocar o material em ordem sistemática para que as propostas sejam devidamente assimiladas e praticadas pelos ouvintes. Esse modo de ensinar é de suma importância  para que a Igreja tenha “as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal” e o que fere os ensinos bíblicos, (Hb. 5:14).  Ensinar para que Igreja possa discernir a diferença entre  os conceitos populares e as verdades bíblicas que comunicam a vida eterna. E, para isso, é necessário alimentar a Igreja “com as palavras da fé e a boa doutrina”. Temos que confiar no poder efetível  da Escritura Sagrada. Por meio dela, Deus realiza todos os seus propósitos entre os homens.

É importante  tomar conhecimento  das cinco “palavras fiéis” que se encontram nas “Cartas Pastorais”: (1Tm. 1:15; 3:1; 4:8-9; 2Tm 2:11-13; Tt 3:4-8). Elas são súmulas de verdades e princípios bíblicos. Veja V.9 da nossa leitura: “Fiel é a palavra e digna de inteira aceitação”. Qual é essa palavra fiel? Aquela do V.8, que fala sobre a particularidade de uma vida piedosa. “Pois o exercício  físico para pouco é proveitoso, mas a piedade para tudo é proveitosa, porque tem a promessa da vida que agora é e da que há de ser”. O servo de Deus não pode ser contador de lorotas jocosas quando deve estar explicando as Escrituras Sagradas. Ele tem que ser totalmente singular em suas atitudes diante de Deus. Às vezes os pastores são criticados por causa de seu modo irreverente para apresentar a sua mensagem. Ele não é um animador de emoções, antes, tem que ser inteiramente singular em suas atitudes espirituais, um “obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem  a palavra da verdade” (2Tm. 2:15). Sem essa singularidade na prática da piedade, o pastor perde a sua autoridade no ensino da palavra, e, pior ainda, o nome de Deus é blasfemado em pleno culto público, por causa dessa insensibilidade espiritual. O salmista cultivava a atitude correta: “arrepia-me a carne com temor de ti, e temo os teus juízos” (Sl. 119:120).

3. A Importância da Biblicidade, Vs. 13-16.  No V.13, temos os três elementos indispensáveis no culto público: Reconhecemos que existem  outros, mas, aqui, o Apóstolo está ressaltando estes três. “Aplica-te à leitura”. Não esquece o lugar das Escrituras Sagradas no Culto a Deus.  Qual a razão dessa ênfase? Reconhecemos que o único contato que muitas pessoas das nossas Igrejas têm com a Palavra de Deus, é o que ouvem nos cultos dominicais, visto que poucas lêem a Bíblia diariamente em culto doméstico. Portanto, nessas leituras públicas, os ouvintes devem se sentir exortados pelo que Deus está  dizendo  sobre as suas vidas morais e espirituais. Além disso, o povo tem que receber o ensino que conduz ao conhecimento da natureza de Deus  e ao que Ele requer de cada um de nós. Devemos  lembrar que o fim principal do culto público é que Deus seja glorificado e que a Igreja seja encaminhada, encorajada e fortalecida para viver uma vida santa e irrepreensível, uma vida que revela a realidade de Cristo em nós. Um exemplo prático desse culto se encontra em Neemias 8:5-8: “Ezdras abriu o Livro à vista de todo o povo (...). Leram no Livro, na lei de Deus, claramente, dando explicações, de maneira que entendessem o que se lia”. Creio que essas explicações foram interpoladas durante a leitura. E quando palavras técnicas, tais como justiça, redenção, perdão e santificação foram encontradas, um breve esclarecimento de cada uma foi dado.

No V.14, o pastor é incentivado a reavivar o dom que Deus lhe deu para pastorear o seu rebanho. O uso da frase, “não te faças negligente”, significa uma consagração diária, dizendo: “Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade” (Hb. 10:9). Essa consagração se torna ainda mais necessária, pois o dom foi reconhecido publicamente “com a imposição das mãos do presbitério”.

No V.15, temos que ser diligentes quanto ao cuidado da nossa vida espiritual, para que o nosso crescimento “a todos seja manifesto”. Temos que “crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe. 3:18). Por que a ênfase sobre esse desenvolvimento espiritual? Eis uma resposta que o Apóstolo nos deu: “Para que tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado” (1Co. 9:27). O Pastor tem que tornar-se “padrão dos fiéis” em termos de diligência, cuidando para que a sua diligencia espiritual  seja observada por todos.

No V.16, temos mais uma exortação e, com esta, uma promessa encorajadora foi anexada. Quando atendemos ao conteúdo desse conselho, a promessa será cumprida. É evidente que o pastor que não sabe como cuidar da sua própria vida espiritual não estará apto para pastorear a vida de outros. Nesse contexto, temos a admoestação: “tem cuidado de ti mesmo e da doutrina”. Cuidar de nós mesmos significa que temos que selecionar os livros (ou o que se encontra na Internet), que devem alimentar, positivamente, a nossa vida espiritual. O Apóstolo nos faz lembrar: “um pouco de fermento leveda toda a massa” (Gl. 5:9). Ou a advertência: “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes” (1Co. 15:33). Por causa do pecado que ainda resta em nós, podemos ser influenciados pelo alimento que não produz o temor de Deus e nem uma vida santa e irrepreensível. E, quando o pastor está sendo influenciado negativamente, ele oferecerá o mesmo alimento à sua Igreja para a debilitação daqueles “a favor de quem Cristo morreu” (Rm. 14:15) Mas, por outro lado, se ele cuidar da sua própria vida espiritual com livros (ou o que se encontra na Internet), cuidadosamente escolhidos, terá a experiência da promessa: “Salvará tanto a si mesmo como aos seus ouvintes”.

“Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto! – diz o Senhor” (Jr. 23:1). Portanto, temos que cultivar “o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”, que disse: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (Fp. 2:5; Jo. 10:11). Então, qual é o nosso dever, dia após dia? “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2Tm. 2:15).

Conclusão: Terminamos confessando que o pastor tem o ofício mais sublime que um homem mortal pode exercer: ministrar em Nome do Senhor. Porém, isso envolve uma responsabilidade quase insuportável, fazendo o Apóstolo exclamar: “Quem, porém, é suficiente para estas coisas?” (2Co. 2:16). Por que este ministério compreende tamanha responsabilidade? Porque estamos direcionando vidas, vidas imortais que podem passar a eternidade, ou no céu ou no inferno. Mas a sublimidade do ministério do pastor é que ele é encarregado de pregar o evangelho, a mensagem que conduz pecadores a arrependerem-se e a entregarem-se a Jesus Cristo, de quem recebem o perdão de todos os seus pecados, juntamente com a promessa de vida eterna.

Por isso, o nosso ministério tem que ser caracterizado por uma piedade pessoal, servindo de modelo, tendo uma vida moral e espiritual irrepreensível diante de Deus. Temos que praticar uma singularidade em nosso ministério, sem qualquer mistura com conceitos populares, pois o nosso objetivo é ordenar e ensinar o Nome santo do nosso Deus. Temos que praticar uma biblicidade que edifica não apenas a nossa própria vida, mas também a vida do povo de Deus que depende da nossa fidelidade às Escrituras Sagradas. O Ap. Paulo nos deixa com a palavra final: “Expondo estas coisas aos irmãos serás bom ministro de Jesus Cristo”. Amém   



Nenhum comentário:

Postar um comentário