Vasos de Honra

terça-feira, 29 de setembro de 2015

INCENTIVOS BÍBLICOS


Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica: 2 Timóteo 1:3-9

Introdução: Timóteo era um jovem que se tornou “sábio para salvação pela fé em Cristo Jesus” (2Tm.3:15). A sua fé era verdadeira e “sem fingimento”. Porém, como jovem, ele sentia receios para enfrentar diversas responsabilidades inerentes à vida cristã. Por isso, o Ap. Paulo o exortou: “Por esta razão, pois, te admoesto que reavives o dom de Deus que há em ti”. Esse dom que ele recebeu é, em primeiro instante, a dádiva da fé. Por razões diferentes, essa fé pode experimentar inibições diante de situações difíceis. Por exemplo, no caso de doenças. A doença tem a tendência de ocupar todos os nossos pensamentos, não deixando lugar para o exercício da fé. Não devemos permitir que o problema nos domine, antes, é a fé que deve nos controlar. A fé não é um mero sentimento, pelo contrário, é uma ação positiva. “Pela fé, Abraão quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança, e partiu sem saber aonde ia” (Hb. 11:8). Ele agiu, sabendo que Deus iria cuidar dele. Vamos ilustrar o uso desta dádiva  de Deus. Temos o caso de certo homem que tinha muito medo de compromissos financeiros. Mas ele recebeu uma herança de muito dinheiro que iria resolver toda a sua insegurança. Contudo, quando as contas mensais começaram a chegar, ele entrou novamente em pânico, perguntando a si mesmo: Como posso pagar tantas contas? Ele não se lembrou da sua herança até que alguém o desafiou: Não seja tolo, por que você não está usando a sua herança? Semelhantemente, Jesus disse a seus discípulos: “Onde está a vossa fé?” (Lc.8:25). Como se estivesse perguntando: Por que não estão usando a vossa fé que Deus lhes deu? Não devemos deixar as dificuldades do momento impedirem o uso da nossa fé. “Quem é que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus? (1Jo. 5:5). Seja qual for o desafio, agimos de acordo com a necessidade, acreditando que Deus há de nos auxiliar, conforme a sua promessa. A fé, quando devidamente usada, sempre nos conduz à presença de Cristo Jesus. Eis a direção que devemos seguir: “Não andeis ansiosos de cousa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (Fl. 4:6-7).

Vamos examinar o versículo sétimo da nossa leitura que nos dará as razões pelas quais podemos viver a vida cristã de maneira que glorifique o nosso Deus. “Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia (ou temor), mas de poder, de amor, e de moderação (ou, domínio próprio, equilíbrio).”   

1. A Dádiva de Poder. Notemos o que Deus não tem nos dado. Ele não tem nos dado um espírito de covardia, ou de temor. Então, o que é que Deus nos tem dado? Ele tem nos dado um espírito de poder, pelo qual podemos enfrentar, corajosamente, toda e qualquer situação, seja a perseguição, o serviço de Deus, a doença ou a morte. Como o Apóstolo tem dito: “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou”, Jesus Cristo. (Rm. 8:31-37).

Timóteo é encorajado a participar, sem temores, dos sofrimentos do Ap. Paulo “como bom soldado de Jesus Cristo” (2 Tm 2:3). Ora, o soldado não pode demonstrar sinal de covardia em sua profissão. Se isso acontecer, ele vai prejudicar não apenas a sua própria segurança, mas, também, aquela de seus colegas. De onde vem a coragem do cristão? Ele vive “embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno” (Ef. 6:16). Armado assim, ele tem poder para enfrentar vitoriosamente  qualquer situação, inclusive o sofrimento que pode afligi-lo no exercício de sua profissão. Deus é honrado quando usamos as suas dádivas, aquelas de poder, para a sua glória.

Timóteo é exortado a manter “a fé e a boa consciência, porquanto alguns, tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé” (1Tm. 1:19). O nosso poder na vida cristã depende da nossa fé. Como podemos manter a nossa fé acesa? Temos que alimentá-la com a leitura e o estudo da Palavra de Deus. Nas Escrituras, descobrimos a vontade de Deus para resolver toda e qualquer situação. E, uma vez reconhecendo a vontade de Deus, temos que agir de acordo. A exortação é esta: “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg. 1:22). Devemos lembrar da observação do Apóstolo: “Não vos sobreveio tentação (situação difícil) que não fosse humana (algo deste mundo e não do outro); mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar” (1Co. 10:13). E qual é essa providência? O dom de poder que Deus tem concedido a todos os seus filhos e filhas que  Ele mesmo recebeu por adoção.

Timóteo é incentivado a ser diligente no exercício de seu ministério: “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela manifestação e pelo seu reino; prega a palavra, insta (insistir, teimar)  quer seja oportuna, quer não; corrige, repreende, exorta com toda longanimidade e doutrina” (2 Tm. 4:1-2). Como testemunhas de Jesus Cristo, todos nós temos que praticar uma diligência semelhante, dentro da esfera do nosso ministério particular. “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens” (Cl. 3:24). Mas, como podemos exercer essa diligência com a devida fidelidade? Deus não nos obriga a trabalhar segundo as nossas próprias forças, pelo contrário, Ele tem nos dado o poder necessário. O Ap. Paulo testemunhou: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fl. 4:13). Não há necessidade de sentir receios diante das nossas responsabilidades cristãs, pois, a dádiva de Deus, o seu poder, é eficaz, seja qual for o desafio que temos que enfrentar e aceitar. Dons são dados para serem usados para a glória de Deus.     

2. A Dádiva do Amor. Nascidos de novo, temos o  poder para amar a Deus, bem como o nosso próximo. Essa disposição é a dádiva de Deus, concedida a fim de autenticar a nossa comunhão com Ele. “O amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado” (Rm. 8:5b). “Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele” (1Jo.4:16). Com qual intensidade devemos amar a Deus? O amor não pode ser mesquinho e dividido por causa de outros interesses. O padrão é este: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento” (Mt. 22:37:38). Esse amor tem que ser a manifestação da plenitude do nosso ser. Notemos a tríplice descrição: todo o coração – toda a alma – todo o entendimento.  A plenitude do nosso amor deve corresponder com a plenitude do amor de Deus. Quando Deus ama, esse amor é derramado sobre o seu povo; quando Deus teve que dar, Ele deu o seu Filho para redimir o seu povo. Ele não o poupou. Um amor maior é impossível. Como podemos perceber, o amor não é um mero sentimento, ele é, antes de tudo, uma ação, o ato de entregar a própria vida em favor do amado. “Nisto conhecemos o amor: que  Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos” (1Jo. 3:16). Como é bom poder confessar: “Cristo me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl. 2:20b).

Devemos usar o dom desse amor que Deus tem nos dado para servir. O exemplo de Cristo deve ser imitado. Ele confessou: “ A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo.4: 34). E, para agir assim, temos que praticar a exortação do Ap. Paulo: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional: E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente para que experimenteis  qual seja a boa e agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm. 12:1-2). Serviço a Deus sempre começa com um ato de auto-apresentação. “Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade” (Hb.10:9).

Essa dádiva de Deus tem que ser usada, não apenas para amar a Deus, mas, também, para amar o nosso próximo. O segundo mandamento semelhante ao primeiro é: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos (amor a Deus e ao próximo) dependem toda a lei e os profetas” (Mt. 22:39-40). O Ap. Paulo observou “O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Rm. 13:10). O Ap. João comentou: “Amados, amemos-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (1Jo. 4:1-2). Deus nos deu esse amor para que pudéssemos autenticar a nossa comunhão com Ele.

Novamente, afirmamos que o amor é muito mais do que um mero sentimento, antes, é uma ação positiva. Qual é a maneira mais prática para demonstrar essa dádiva de Deus? “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar a nossa vida pelos irmãos. Ora, aquele que possuir recursos deste mundo e vir o seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus?” (1Jo.3:16-17). Por que é tão importante praticar esse amor ao nosso irmão? Porque este será o padrão que Cristo usará no Dia do Juízo. Quando vemos o nosso irmão com fome, damos-lhe de comer; com sede, damos-lhe de beber; forasteiro, damos-lhe hospedagem; nu, damos-lhe vestimento; enfermos, visitamos; preso, damos-lhe apoio. Fazendo assim, estaremos usando a dádiva de Deus para a sua glória. Notemos que essas coisas devem ser praticadas como a Cristo. A nossa aprovação, ou, reprovação, será baseada de acordo com a prática, ou, a negligência, destes atos de amor, (Mt. 25:34-46). Não temos nenhuma desculpa para não praticar o amor, porque, juntamente com essa dádiva, Deus nos deu o poder para praticá-la, seja qual for a pessoa.

3. A Dádiva de Moderação. Este dom que recebemos de Deus, a moderação, foi dado para ajudar-nos a manter uma prudência e um auto-controle nas variadas circunstâncias da vida cristã. Apesar de possuir as dádivas de poder e amor, somos ainda capazes de perder o equilíbrio em nossas reações. Por que? Esse tesouro (os dons de Deus) está em vasos de barro, peças frágeis que podem ser danificadas quando recebem maus tratos. Por que Deus age assim? Para que “a excelência do poder seja de Deus, e não de nós” (2 Co. 4:7). Vamos ilustrar o uso dessa moderação: O Ap. Paulo está num navio prestes a ser naufragado por causa de uma grande tempestade. No perigo, para todos, exceto o Apóstolo, “dissipou-se, afinal, toda a esperança de salvamento”.  No meio desse desespero, “Paulo rogava a todos que se alimentassem (...) pois nenhum de vós perderá nem mesmo um fio de cabelo” (At. 27:18-36). Por que o  Apóstolo conseguiu manter a moderação, a calma, nessa situação perigosa? Ele mesmo nos dá resposta: “Eu confio em Deus que sucederá do modo por que me foi dito” (At. 27:25). O cristão que entra em pânico por causa de qualquer tempestade, evidentemente, não está usando as dádivas de poder, amor e moderação que  Deus lhe concedeu; e, assim, Deus não está sendo glorificado no meio da tempestade. Por que algumas pessoas entram em pânico  quando os ventos são contrários, enquanto outras conseguem manter a moderação? O momento em que olhamos para a circunstância e deixamos que ela tome conta das nossas emoções, o resultado não pode ser outro senão o desespero e opressão. Todos nós estamos lembrando o que aconteceu quando Pedro, “reparando, porém, na força do vento, teve medo; e, começando a submergir, gritou: Salva-me Senhor!” (Mt. 14:30). Como evitar essa reação negativa? No momento em que chegar qualquer dificuldade, devemos reafirmar a nossa confiança na graça sustentadora do nosso Deus e manter os nossos olhos fixos no Senhor Jesus Cristo, o Autor e Consumador da nossa fé, (Hb. 12:2). Deus nos deu o dom da moderação, o auto-controle, para ser usado em toda e qualquer situação. Em nossos dias, será que Jesus tem necessidade de perguntar: Onde está a sua moderação? Por que não está usando o dom que Deus lhe concedeu? Não acredita que Deus é poderoso para te socorrer? O Apóstolo nos advertiu: “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós o perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo” (Hb. 3:12). O mesmo princípio opera nos casos de doença grave e morte. O desespero toma conta porque é o problema que está dominando e impedindo a intervenção do Deus de toda consolação. Timóteo tinha  uma constituição mais frágil, mas em vez de deixar as doenças dominarem os seus pensamentos, ele tinha que praticar o bom senso e a moderação. Por isso, o Apóstolo lhe aconselhou: “Não continues a beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas enfermidades” (1Tm 5:23). Não tenhamos medo de usar recursos humanos porque isso não significa  uma falta de fé, antes, é a manifestação dela.

Na vida cristã, a prática da moderação é de suma necessidade, porque o cristão vive entre duas possibilidades  de experiências contraditórias. O desânimo, porque, “através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (At. 14:22). E, uma alegria exagerada, “porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas de justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm. 14:17) O que glorifica a Deus é um procedimento equilibrado, sem excessos de desânimo e sem excessos de alegria. “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios e sim, como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus” (Ef. 5:15-16).


Conclusão: Deus, em sua misericórdia entranhável, tem nos dado três dádivas imprescindíveis: poder, para que possamos viver como testemunhas fiéis; amor, para que possamos amar a Deus e ao nosso próximo de uma maneira convincente, pois, procedendo assim, autenticamos a nossa comunhão com Deus, seja qual for a circunstância; moderação, para que tenhamos auto-controle e equilíbrio no meio de situações provocantes. O Apóstolo faz esta conclusão: “Tendo, pois, ó amados, tais promessas (e dádivas), purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus” (2 Co. 7:1).