Vasos de Honra

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A VERDADEIRA CONVERSÃO



A Bíblia tem esta promessa para os pecadores: “O Senhor, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração da tua descendência, para amares o Senhor, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas” Dt.30:6.

            O que significa isto? Devemos temer e amar a Deus, e buscá-lo, para que sua obra se realize em nós, pois Ele é quem efetua em nós tanto o querer como o realizar, segundo a sua vontade, Fl. 2:13. No conceito do Breve Catecismo, Vocação e Conversão são basicamente sinônimas, pois tratam da mesma verdade. “Vocação eficaz é a obra do Espírito Santo, pela qual, convencendo-nos do pecado, e da nossa miséria, iluminando nossos entendimentos pelo conhecimento de Cristo, e renovando a nossa vontade nos persuade e habilita a abraçar Jesus Cristo, que nos é oferecido de graça no evangelho” Resposta 31 do Breve Catecismo. O Espírito Santo realiza a conversão do pecador atuando sobre três áreas fundamentais de sua vida:
            a) Ele nos convence do pecado e da nossa miséria. Antes de haver qualquer desejo de salvação, temos de ser convencidos desta necessidade. Por isso, o Espírito Santo nos convence do pecado e do juízo vindouro, Jo.16:8. Ele nos ensina que a lei é obrigada a condenar o pecador à pena máxima, a morte, banimento eterno da presença e do poder de Deus, Rm.6:23; 2 Ts.1:9. Quando o Espírito Santo nos convence desta realidade, ficamos com medo e desejamos intensamente um meio de escape.
            b) Ele ilumina a nossa compreensão de Cristo através do Evangelho, ensinando que Jesus Cristo é o único que nos pode oferecer a desejada salvação, mostrando-nos que sua morte substitutiva na cruz do Calvário resolveu para sempre todos os nossos problemas perante a lei de Deus.
            c) Ele renova a nossa vontade (que por natureza é totalmente adversa ao querer de Deus), nos persuade e habilita a abraçar Jesus Cristo, como nos é oferecido de graça no Evangelho. Depois de nos convencer da suficiência deste Libertador para nos salvar totalmente da lei de Deus, o Espírito Santo nos dá a capacidade de crer em Cristo, vir e entregar a nossa vida a Ele, sem qualquer reserva, para sermos justificados, adotados, santificados e recebidos em glória.
            O Catecismo de Heidelberg resume o assunto de conversão em duas partes. Pergunta 88. “Quantas partes há na verdadeira conversão do homem? Resposta. Duas, a morte do velho homem e o nascimento do novo homem”. Podemos dizer que a verdadeira conversão é um tipo de morte e ressurreição; algo bem específico e visível acontece dentro do nosso ser, e que se manifesta através de uma mudança em todas as áreas do nosso procedimento. Tudo começa com a nossa união vital com Cristo, pela qual, em termos espirituais, temos as mesmas experiências, Rm.6:1-14. Quando Cristo foi crucificado, Ele morreu para o pecado; assim, nós também, morremos para o pecado. Em ambos os casos, o pecado sofreu um golpe mortífero. Quando Cristo ressuscitou para viver em novidade de vida, nós também ressuscitamos para andar em novidade de vida. “Porque, se fomos unidos com ele (Cristo) na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição” Rm.6:5. O Apóstolo Paulo resumiu este princípio de morte e ressurreição nestas palavras: “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as cousas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” 2 Co.5:17.
            Os termos, conversão e regeneração, são basicamente sinônimos na literatura bíblica, e são usados com uma certa flexibilidade para descrever a mesma verdade: o nosso encontro salvador com Jesus Cristo. Porém, em termos mais precisos, conversão descreve a atividade do homem, é ele que abandona o seu pecado e crê em Cristo. Regeneração descreve a atividade do Espírito Santo, é Ele que transforma a nossa disposição espiritual, habilitando-nos a abandonar o pecado e a crer em Jesus Cristo. Por causa do “evangelho fácil” dos nossos dias e a conseqüente desobrigação de mudanças radicais na vida moral e espiritual do homem, é necessário enfatizar a importância de evidencias verificáveis na conversão do pecador. “Nem todo aquele o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” Mt.7:21. “E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de quase todos. Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” Mt.24:12-13.
        
1. A Evidência da Conversão pela Contrição. Cristo enfatizava: “Se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis” Lc. 13:1-5. Esta verdade é uma parte essencial na proclamação do Evangelho. Cristo esclareceu: “Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos ao terceiro dia e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando em Jerusalém” Lc.24:46-47. Pergunta 89. “O que é morte do velho homem? Resposta. É a profunda tristeza por causa dos pecados e a vontade de odiá-los e evitá-los cada vez mais”. Observemos os dois aspectos da contrição.
            a) Tristeza por causa da transgressão. Embora a intensidade desta tristeza possa variar entre indivíduos, por razões de circunstâncias, todos devem sentir um peso sobre a consciência. Afinal, um pecado foi cometido contra Deus. Quando Isaías percebeu a santidade do Senhor, exclamou: “Ai de mim! Estou perdido” Is.6:5. Os ouvintes do Apóstolo Pedro, compungidos no coração por causa da consciência de seu pecado, pediram: “Que faremos, irmãos?” At.2:37. E o Apóstolo Paulo, convencido da sua pecaminosidade, perguntou: “Desventurado homem que sou, quem me livrará do corpo desta morte?” Rm.7:24. Neste momento de desespero espiritual, o Espírito Santo age e conduz o arrependido aos pés de Jesus Cristo, de onde recebe o perdão.
            b) Rejeição do pecado. Não queremos mais nada com esse mal que se tornou repulsivo. Quando nos lembramos dos nossos pecados, a Bíblia diz: “Eles terão nojo de si mesmo, por causa dos males que fizeram em todas as suas abominações” Ex.6:9. A rejeição do pecado é tão grande, que recusamos todo e qualquer contato com as fontes do pecado, tais como filmes inconvenientes, livros e conversas que procuram introduzir assuntos impuros à nossa mente. Conversão é assim, o pecado é algo nocivo e a nossa rejeição dele é a evidência do nosso encontro com Cristo.
           
2. A Evidência da Conversão pelo Contentamento. Se Deus tem nos abençoado, não há como esconder a alegria que enche o coração. O salmista descreve a bondade de Deus para com os convertidos. “O Senhor dá força ao seu povo, o Senhor abençoa com paz ao seu povo” Sl.29:11. Pergunta 90. “O que é o nascimento do novo homem? Resposta. É a alegria sincera em Deus, por Cristo e o forte desejo de viver conforme a vontade de Deus em todas as boas obras.” Aquele que é convertido tem grande contentamento pela compreensão da maravilha das dádivas que Deus derrama sobre nós, em Cristo. 
            a) Motivos deste contentamento.
I) Quando Cristo morreu como nosso Substituto diante da lei de Deus, Ele satisfez todas as exigências divinas. “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar” Cl.3:13. Quando o Apóstolo afirma que fomos “libertados da lei” Rm.7:6, está dizendo: “Agora, pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” Rm.8:1. Que motivo insondável de contentamento!

II) Quando o Espírito Santo nos convenceu do nosso pecado, Ele também nos conduziu a Cristo Jesus, “no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” Ef.1:7. O Salmista confessou: “Bem-aventurado aquele cuja iniqüidade é perdoada, cujo o pecado é coberto” Sl.32:1. Que motivo consolador de contentamento!

III) Enfim, “Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho”, Jesus Cristo, IJo.5:11. Eis a base do contentamento que jamais terá fim!
           
b) O efeito destas bênçãos sobre a nossa disposição filial. Temos “o forte desejo de viver conforme a vontade de Deus em todas as boas obras”. Eis o testemunho do Apóstolo Paulo: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” Gl.2:20.
           
3. A Evidência da Conversão pela Consagração. Aquele que é convertido é devedor àquele que o redimiu; ele não consegue ficar passivo, pois seu desejo é se consagrar àquele que o amou e a si mesmo se entregou por ele. O preço da nossa redenção é o motivo da nossa consagração. Fomos comprados por um bom preço, agora, somos constrangidos a glorificar a Deus em nosso corpo, I Co.6:20. Pergunta 91. “Que são boas obras? Resposta. São somente aquelas que são feitas com verdadeira fé, conforme a lei de Deus e para a sua glória; não são aquelas que se baseiam em nossa própria opinião ou em tradições humanas.” A nossa consagração se revela através das boas obras, ou seja, a maneira pela qual servimos a Deus. Como podemos demonstrar a nossa consagração, o nosso novo apego a Deus?
            a) Através de atos de culto. Insistimos na prática do Culto Doméstico – a família toda reunida para cantar hinos, ler a Bíblia e fazer orações; freqüência assídua aos cultos públicos na Igreja; mais os exercícios devocionais através de bons livros. É uma verdadeira contradição quando se fala de consagração a Deus sem prestar-lhe o devido culto com uma aplicação diária.
            b) Houve um tempo quando costumávamos servir as vaidades desta vida; agora, queremos servir aquele que nos amou e a si mesmo se entregou por nós. Na Igreja, há sempre oportunidades para servir, quer como oficial, ou simplesmente como uma testemunha que irradia amor cristão. “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” Mt.5:16. Cristo disse: “E sereis as minhas testemunhas” At.1:8.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O DÉCIMO MANDAMENTO


“Eu sou o Senhor teu Deus... Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem cousa alguma que pertença ao teu próximo”. Ex.20:2,17.

            O que significa isto? Devemos temer e amar a Deus, pois Ele é o nosso Legislador. “O Décimo Mandamento exige pleno contentamento com a nossa condição, bem como disposição caridosa para com o nosso próximo e tudo que lhe pertence” Resposta 80 do Breve Catecismo. Cobiçar significa desejar alguma coisa ardentemente. No entanto, a cobiça, neste contexto, expressa algo bem mais forte do que um mero desejo. A sua ênfase indica uma prática negativa, uma força que atrai e seduz.” Então a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte,”  Tg.1:14-15. Veja também Mq.2:2.
            O simples desejo de adquirir bens não é necessariamente pecaminoso; ao contrário, é parte essencial da nossa constituição. Sem esses desejos positivos, a nossa vida seria passiva e inexpressiva. Contudo, devemos lembrar que a nossa capacidade de desejar e alcançar objetivos ficou corrompida pelo pecado de tal forma que as nossas ambições nem sempre correspondem ao nosso bem e nem à vontade revelada de Deus. Por isso, o Décimo Mandamento interveio para proibir os excessos que a cobiça produz, tais como a transgressão de todos os nove mandamentos anteriores. Deus quer o nosso bem, e também o do nosso próximo.
            Os anseios do verdadeiro cristão, cuja vida foi entregue a Jesus Cristo, são resumidos nestas palavras: “Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade” Hb. 10:9. “Consumada está a minha alma por desejar incessantemente, os teus juízos” Sl.119:20. Como são diferentes os anseios do descrente! O Apóstolo Paulo os descreve como aqueles que andam segundo as inclinações da sua carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e são, por natureza, filhos da ira, Ef.2:3.
            O Breve Catecismo da Igreja Presbiteriana do Brasil indica que a cobiça é provocada por uma falta de contentamento com a nossa condição, seja qual for a área específica. Algumas circunstâncias nesta vida podem ser melhoradas através do trabalho honesto e do bom uso dos nossos recursos. Porém, existem outros fatores em nossa vida que estão fora do nosso alcance, pois pertencem ao domínio da soberana providência de Deus. Contentamento não é parte da nossa natureza pecaminosa, antes, é algo que temos de adquirir, aprender e cultivar. O Apóstolo Paulo experimentou tantas circunstâncias independentes da sua vontade, contudo, testemunhou: “Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor... Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece” Fl.4:10-13. Quando o Salmista reconheceu o soberano cuidado da providência de Deus em sua vida, ele confessou, com gratidão: “O Senhor é a porção da minha herança e o meu cálice; tu és o arrimo da minha sorte. Caem-me as divisas em lugares amenos, é mui linda a minha herança” Sl.16:5-6. O Deus que promove as circunstâncias da nossa vida é o mesmo que prometeu: “E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século” Mt.28:20. Feliz a pessoa que pode confessar, por experiência: “O Senhor é o meu Pastor; e nada me faltará” Sl.23:1. Aquele que me colocou nesta situação atual, prometeu: “De maneira alguma, te deixarei, nunca jamais te abandonarei. Assim, afirmemos, confiantemente: O Senhor é meu auxílio, não temerei; que me poderá fazer o homem?” Hb.13:5-6. Se pudéssemos cultivar mais esta atitude, seríamos bem mais contentes com a nossa porção e a cobiça não teria tanta entrada em nossa vida. Se estivéssemos mais ocupados pensando em valores celestiais, buscando as coisas superiores lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus, não teríamos tanta disposição para cobiçar as coisas inferiores aqui da terra, Cl.4:1-4.
           
1. A Importância do Mandamento. Seja qual for o pecado praticado, ele teve origem, em primeiro instante, nos pensamentos, na forma de uma cobiça. Se não houvesse qualquer cobiça mental dentro do coração, os demais pecados físicos provavelmente não se consumariam. Por isso, a importância deste mandamento. O Apóstolo Paulo ficou convencido da sua pecaminosidade porque a lei disse: “Não cobiçarás”.  O convencimento foi tão profundo que ele exclamou, em sua busca por socorro: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” Rm.7:7,24. A carga de seu pecado inato foi um peso que o Apóstolo não conseguia suportar e nem lançar fora de si mesmo. Seu único recurso era gemer sob a sua pressão e anelar por um livramento por alguém com forças superiores. E, pelo Espírito Santo, logo percebeu que a sua salvação estava em Jesus Cristo, Rm.7:25. Pergunta 113. “O que Deus exige no Décimo Mandamento? Resposta. Jamais pode surgir em nosso coração o menor desejo ou pensamento contra qualquer mandamento de Deus. Pelo contrário, odiar todos os pecados e amar toda justiça”.
            a) Uma vigilância constante. O mundo dos nossos pensamentos é tão real quanto a nossa vida física. Temos a nossa opinião secreta sobre uma gama de realidades, inclusive sobre os valores das Escrituras Sagradas. Este mundo, escondido do conhecimento das pessoas ao nosso redor, é fortemente influenciado por nossa natureza pecaminosa, por isso, somos exortados a levar cativo todo pensamento à obediência de Cristo, 2 Co.10:5. Quantas vezes, no coração, temos questionado a necessidade de obedecer certos mandamentos específicos ou temos contestado a justiça das exigências das leis do Senhor? Temos de vigiar o nosso coração e não permitir qualquer pensamento que possa ferir os direitos legislativos de Deus.
            b) Uma atitude constante. “Devemos sempre, de todo o coração, odiar todos os pecados e amar toda justiça”. Odiar o pecado significa, não apenas um afastamento de todo e qualquer contato com o pecado, mas também, de todas as aparências do mal, inclusive aqueles pensamentos que podem nutrir a impureza, Ef.5:2. I Ts.5:22. O dever positivo de cada cristão é amar e praticar a justiça, Sl.106:3.
           
2. A Imposição do Mandamento. O Senhor é o nosso criador, portanto, Ele tem, não apenas o direito de legislar sobre o nosso procedimento, mas também, de impor a sua vontade. “Aplicai o coração a todas as palavras que, hoje, testifico entre vós, para que ordeneis a vossos filhos que cuidem de cumprir todas as palavras desta lei. Porque esta palavra não é para vós outros cousa vã; antes, é a vossa vida” Dt.32:46-47. Pergunta 114. “Mas aqueles que se converterem a Deus podem guardar perfeitamente esses mandamentos? Resposta.Não, não podem, porque nesta vida até os mais santos deles apenas começam a guardar os mandamentos. Entretanto, começam, com sério propósito, a viver não somente conforme alguns, mas conforme todos os mandamentos de Deus.”
            No momento em que alguém é nascido de novo e crê em Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador, o seu novo estado espiritual é confirmado com o dom do Espírito Santo, que o habilita a andar nos estatutos do Senhor, guardar os seus juízos e os observar, Ez.36:27; Ef.1:13; Jo.4:13. Assim começa em nós o longo processo de santificação. “Santificação é a obra da livre graça de Deus, pela qual somos renovados em todo o nosso ser, segundo a imagem de Deus, habilitados a morrer cada vez mais para o pecado e a viver para a retidão, I Pe.1:2; Ef.4:20-24; Rm.6:6; 12:1-2.” Breve Catecismo 35. Duas observações de importância inegociável:
            a) A continuidade da obediência. A evidência do nosso novo estado em Cristo é que começamos a guardar os mandamentos do Senhor, uma obediência que prestamos de todo o coração e perseverança, como uma manifestação do nosso amor, Jo.14:15; IJo.3:24. Cristo disse: “Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus” Lc.9:62.
            b) A abrangência da obediência. Uma submissão sincera e prestativa não pode ser seletiva em sua obediência; aceitando uma ordem fácil e rejeitando uma difícil. Para o cristão, nenhum dos mandamentos é penoso. “Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita (descobrindo caminhos de obediência) de dia e de noite” Sl.1:2; I Jo.5:3.
           
3. A Importunação do Mandamento. Obediência à lei de Deus nunca foi um caminho para ganhar a salvação e a vida eterna; estas dádivas de Deus foram sempre concedidas gratuitamente pela fé em Jesus Cristo. No momento, a lei tem uma dupla missão: Primeiro, “pela lei vem o pleno conhecimento do pecado” Rm.3:20. Segundo, “a lei nos serviu de aio para conduzir-nos a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé” Gl.3:24. A lei nos importuna para que busquemos refúgio em Jesus Cristo. Pergunta 115. “Para quê, então, manda Deus pregar os Dez Mandamentos tão rigorosamente, já que ninguém pode guardá-los nesta vida? Resposta. “Primeiro: para que durante toda a vida, conheçamos cada vez melhor nossa natureza pecaminosa e, por isso, ainda mais desejemos buscar, em Cristo, o perdão dos pecados e a justiça. Segundo: para que sempre sejamos zelosos e oremos a Deus pela graça do Espírito Santo, a fim de que sejamos cada vez mais renovados segundo a imagem de Deus até que, depois desta vida, alcancemos o objetivo, a saber, a perfeição”.
            Que tenhamos o mesmo testemunho que operava nos cristãos primitivos: Que a nossa obediência seja conhecida por todos, Rm.16:19. Estas são as boas obras que Deus procura encontrar na vida de seu povo. Portanto, sejamos solícitos na prática de boas obras, Tt.3:8.

NONO MANDAMENTO



“Eu sou o Senhor teu Deus... Não dirás falso testemunho contra o teu próximo”. Ex.20:2,16.

            O que significa isto? Devemos temer e amar a Deus, pois Ele é o nosso Legislador. “O Nono Mandamento exige a conservação e a promoção da verdade entre os homens e a manutenção da nossa boa reputação e a do nosso próximo, especialmente quando chamados a dar testemunho”. Resposta 77 do Breve Catecismo. Observemos a santidade da verdade. “O que diz a verdade manifesta a justiça, mas a testemunha falsa, a fraude” Pv.12:17. Por uma simples omissão, intencional ou involuntária, vidas inteiras podem ser prejudicadas. “Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros” Ef.4:25. Para facilitar a compreensão deste princípio, oferecemos duas definições parciais.
            a) O que é uma mentira? É conscientemente afirmar algo contrário à verdade. De modo geral, a pessoa mente na esperança de proteger a si mesma. Portanto, o ato de mentir é uma agressão contra a dignidade do próximo. A mentira é uma maneira de zombar do infeliz, Jz.16:13.
            b) A mentira se apresenta de várias maneiras. Caim deu uma resposta evasiva, pois sabia muito bem o que havia acontecido com o seu irmão, Gn.4:9. Jacó mentiu, propositada e premeditadamente a fim de enganar a seu pai, Gn.27:19. Geazi representou falsamente o Profeta Eliseu, a fim de receber “alguma coisa” da riqueza que Naamã havia trazido consigo, 2 Rs.5:20-27. O mentiroso pensa que pode enganar o próprio Deus com as suas palavras de boa ação, como no caso de Ananias e Safira, At.5:1-10. A mentira é o pecado do anticristo, I Jo.2:22. E, como advertência, o mentiroso inveterado jamais penetrará no reino de Deus, Ap.21:27.
            Um dos resultados da mentira é o castigo judicial, no qual Deus entrega o pecador obstinado às conseqüências de sua própria falsidade. “Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira” 2Ts.2:11. Outra expressão semelhante: “Deus entregou tais homens à imundícia”. Evidentemente, quando um pecador insiste em seus desejos perversos, Deus o entrega para praticar tais insensatezes, e, simultaneamente, para receber, em si mesmo, a merecida punição do seu erro, Rm.1:24-27. Quando o homem quer a mentira, Deus pode lhe dar o que deseja, 2Cr.18:19-22. Neste mesmo sentido, devemos estar atentos quando a nossa própria consciência age contra os nossos melhores interesses, dando um falso testemunho e contrariando a palavra de Deus. É tão comum ouvir esta justificativa acerca de um procedimento repreensível: “A minha consciência não me acusa!” Isto quer dizer: “A minha consciência está aprovando o meu modo de agir.” A totalidade do nosso ser, corpo e alma, ficou atingida pelo pecado original, inclusive a nossa consciência. Ela não é uma autoridade final em questões morais e espirituais; esta pertence exclusivamente ao testemunho inerrante das Escrituras Sagradas. “Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus” I Pe.4:11.
        
1. A Importância de Palavras Corretas. As atitudes do cristão, bem como as suas palavras, são de suma importância. “O amor seja sem hipocrisia. Detestai o mal, apegando-vos ao bem” Rm.12:9. “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe; e sim, unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem” Ef.4:29. Pergunta 112.  “O que Deus exige no Nono Mandamento? Resposta. Jamais posso dar falso testemunho contra meu próximo, nem torcer suas palavras, ou ser mexeriqueiro ou caluniador. Também não posso ajudar a condenar alguém levianamente sem o ter ouvido.” Observemos as quatro áreas onde as palavras corretas têm de caracterizar o nosso depoimento.
a) O problema do falso testemunho, que viola a justiça e despreza os direitos do próximo. Deus se compadece das vítimas da desonestidade, por isso, Ele julga o transgressor do Nono Mandamento. “A falsa testemunha não fica impune, e o que profere mentiras não escapa” Pv.19:5. O uso de falsas testemunhas tem causado todo tipo de crimes contra inocentes.
b) O problema de distorcer as palavras, ou, desvirtuar as palavras ouvidas. Não é uma mentira patente, antes, o depoimento é manipulado para apresentar uma história completamente diferente. As palavras de Cristo foram muitas vezes distorcidas na esperança de condená-lo, Mc.14:55-29; Lc.23:2. O verdadeiro cidadão dos céus é aquele “que não difama com sua língua, não faz mal ao próximo, nem lança injúria contra seu vizinho” Sl.15:3.
c) O problema de mexericar e caluniar: quando palavras são usadas para prejudicar alguém que está passando por tempos difíceis. Não importa se o assunto é baseado em fatos, a fofoca é um crime à lei do amor, pois de uma maneira direta, agrava o problema que a vítima está enfrentando, e prejudica a sua reintegração no círculo de amizades. Os mexeriqueiros são classificados como aqueles que desprezaram o conhecimento e, como resultado, agem sem afeição natural e sem misericórdia, Rm.1:28-21. Cuidado com a língua! Tg.3:1-2.
d) O problema de ser testemunha judiciária. Os tribunais existem a fim de promover e assegurar a justiça, contudo, estes têm sido instrumentos de grandes injustiças por causa das palavras de falsas testemunhas. E, em nossas avaliações pessoais, não devemos condenar alguém levianamente sem o ter ouvido. Cristo disse: “Não julgueis, para que não sejais julgados” Mt.7:1-5.

2. A Impregnação de Palavras Corretas. Não devemos subestimar a importância de palavras apropriadas para cada ocasião. O Apóstolo Paulo nos encoraja neste dever: “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada (impregnada) com sal, para saberdes como deveis responder a cada um” Cl.4:6. Notemos a ênfase do Apóstolo: a nossa palavra “seja sempre agradável”, falando a verdade “em amor” Ef.4:15. Aqueles que são “o sal da terra” não podem ser insípidos em suas comunicações, Mt.5:13. “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe; e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem” Ef.4:29. Resposta. “Mas devo evitar toda mentira e engano, obras próprias do diabo, para Deus não ficar aborrecido comigo”.
a) A origem de palavras mentirosas. Filhos não apenas obedecem a seus pais, mas, também, os hábitos básicos são a manifestação da influência paternal, adquiridos pela imitação. Devemos tomar conhecimento de uma conclusão bíblica - o mundo é composto de apenas duas classes de pessoas: “Os filhos de Deus e os filhos do diabo”. O Apóstolo João é bem claro quanto à identificação destes. “Todo aquele que não pratica justiça (que vive mentindo e prejudicando o próximo) não procede de Deus, nem aquele que não ama seu irmão” I Jo.3:10. Por isso, Cristo logo descobriu a filiação dos judeus descrentes: “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhes os desejos. Desde o princípio, ele jamais se firmou na verdade, porque é mentiroso e o pai da mentira,” Jo.8:44. Pelos frutos, pelas palavras que proferimos, declaramos a nossa filiação. Não há como fugir desta conclusão, Mt.7:20.
b) A dupla reação que palavras podem causar. “Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor, mas os que obram fielmente são o seu prazer.” Por nossas palavras, podemos provocar, ou aborrecimento, ou prazer ao Senhor, Pv.12:22. O Salmista orava com urgência: “Que as palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, Senhor, rocha minha e, redentor meu!” Sl.19:14.

3. A Implantação de Palavras Corretas. As nossas palavras, como sementes vivas e verdadeiras, devem caracterizar todas as nossas comunicações. E quando temos de avaliar o procedimento de outrem, implantamos a verdade. “O amor não pratica o mal contra o próximo” Rm.13:10. Resposta. “Em julgamentos e em qualquer outra ocasião, devo amar a verdade e confessá-la francamente. Também devo defender e promover, tanto quanto puder, a honra e a boa reputação de meu próximo”.
a) A primazia da verdade. É a verdade que deve ter a precedência em todas as nossas conclusões. Às vezes temos de revelar o nosso conhecimento a respeito do caráter de uma pessoa. A nossa palavra pode ser a causa da promoção ou da demoção. Por isso, “devo amar a verdade, falar a verdade e confessá-la francamente”. A característica dominante do cidadão dos céus é esta: Ele vive com integridade, sem dissimulações; pratica a justiça, e, de coração, fala a verdade, Sl.15:2. Deus é puro em seu julgar, e nós, o seu povo, o imitamos em nossos pronunciamentos. Deus tem prazer em contemplar a verdade no íntimo de seu povo, Sl.51:6.
b) A primazia do nosso próximo. Como cristãos, não podemos viver egoisticamente, o nosso próximo deve ter a precedência. “Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros” Fl.2:4. A atitude do bom samaritano ilustra este princípio. Certamente ele estava com pressa para resolver seus negócios, porém, vendo a necessidade do ferido, esqueceu-se da sua pressa e deu de si mesmo para ajudar o homem, que se tornou seu próximo, Lc.10:33-35. No mesmo sentido, o Apóstolo Paulo escreveu: “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra (importância) uns aos outros” Rm.12:10. A honra e a boa reputação do nosso próximo são importantes em nosso círculo de valores. Não medimos esforços quando se trata do próximo. “Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados” I Pe.4:7. No amor, não há lugar para falso testemunho contra o próximo.         

O OITAVO MANDAMENTO



“Eu sou o Senhor teu Deus... Não furtarás” Ex.20:2,15.

            O que significa isto? Devemos temer e amar a Deus, pois Ele é o nosso Legislador. “O Oitavo Mandamento exige que procuremos o lícito adiantamento das riquezas e do estado exterior, tanto nosso como do nosso próximo” Resposta 74 do Breve Catecismo. Quando Deus criou o homem, ele recebeu o Mandato do Trabalho. No Quarto Mandamento, a santidade do trabalho é explícita: “Seis dias trabalharás e farás toda tua obra” Ex.20:9. Através desta atividade, o homem ganhava o seu sustento diário. Seu serviço não era difícil e nem penoso; estes aspectos negativos começaram somente depois da queda. E, como foi observada, a transgressão de Adão desfigurou e corrompeu a totalidade da natureza humana, inclusive o seu dever de trabalho. Em que sentido o Mandato do Trabalho ficou deturpado pelo pecado?
            a) Sim, o homem ainda trabalha a fim de ganhar o seu sustento, porém, não mais com aquela diligência original.
            b) Muitas vezes, o motivo do trabalho é uma ganância agressiva; ele quer ganhar para alcançar prestígio e domínio sobre os mais fracos.
            c) Mas, para alguns, o Mandato do Trabalho é desprezado; a vagabundagem prevalece e, com isto, os bens que outros ganharam através do suor de seu rosto, são saqueados.
            d) A propriedade que adquirimos não é apenas um direito e a recompensa do nosso trabalho, mas é também algo sagrado, que os outros devem respeitar. Por isso o Oitavo Mandamento visa à proteção dos nossos bens. A lei estabelece de uma forma definitiva: “Não furtarás”. O roubo é uma das maneiras mais nocivas de desprezar o direito dos outros.
            e) Há muitas maneiras para furtar e defraudar o nosso próximo: um serviço mal feito; preguiça e desleixo no ofício; desperdício do tempo em conversas desnecessárias; negligência em observar os horários estipulados; e, lançar mão de peças que “estão sobrando” no serviço. O pecado descobriu tantas possibilidades e oportunidades para “levar vantagem”, que o número é quase incontável.
           
1. Atos de Maleficência. O resumo da segunda tábua dos Dez Mandamentos é: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Lc.10:27. O Ap. Paulo escreveu: “O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor” Rm.13:12. O amor respeita a propriedade de outros e jamais praticará o mal do furto. Pergunta 110. “O que Deus proíbe no Oitavo Mandamento?” Resposta. “Deus não somente proíbe o furto e o roubo que as autoridades castigam, mas também classifica como roubo todos os maus propósitos e as práticas maliciosas, através dos quais tentamos nos apropriar dos bens do próximo, seja por força, seja por aparência de direito.” O roubo é sempre uma maleficência, pois seu objetivo é prejudicar e tomar vantagem de sua vítima. Podemos observar:
            a) O Catecismo novamente fala do ministério das “autoridades”, que são os ministros de Deus para “castigar” os ladrões. Elas representam a lei e o seu cumprimento, tendo o poder de impor restrições sobre o comportamento de todos. E, no caso de transgressões, têm o poder de estipular indenizações; o transgressor é obrigado a restituir o valor daquilo em que prejudicou o outro, Ex.22:1-9. No caso de roubo, a pessoa tinha de devolver o valor do objeto roubado, mais os juros, etc. Lv.6:4-5; Lc.19:8. Mas a questão não se encerra com a sentença das autoridades civis, porque o crime não é apenas contra a outra pessoa, é também um atentado contra a autoridade de Deus, pois Ele é o nosso Legislador. A Bíblia fala repetidamente sobre o “Dia do Juízo”, quando “cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus” Mt.12:36; Rm.14:12. Todas as formas de furto são uma “abominação ao Senhor”, por isso, os ladrões não podem herdar o reino de Deus. Todavia, há uma esperança para os contritos de coração, Dt.25:13-16; I Co.6:9-11.
               b) O Catecismo fala, como advertência, dos perigos de “todos os maus propósitos e as práticas maliciosas”. Por que estes maus desígnios entram no coração do homem? A Bíblia responde: Pela cobiça. A pessoa vê os bens do próximo e faz de tudo para se apropriar deles. O simples olhar de cobiça já é classificado como roubo. A cobiça tem um poder para atrair, seduzir e levar o homem à prática dos crimes mais afrontosos. “Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte” – a sentença irrevogável, Tg.1:14-15. Por isso, o Décimo Mandamento avisa: “Não cobiçaras”, porque a morte está perto.
            c) A hipocrisia tem muitas máscaras. Quando alguém está querendo se aproveitar de uma circunstância, a fim de se apropriar dos bens do próximo, ele se justifica: A minha causa é justa, eu quero apenas os meus direitos. Ele tem a “aparência” certa, porém seus olhos estão se alimentando com os bens do próximo. Este tipo de hipocrisia existe não somente no mundo secular, mas, infelizmente, também dentro da própria Casa de Deus. Quando dois membros da Igreja entraram em litígio sobre propriedades, qual foi a sentença do Apóstolo? “Por que não sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano?” ICo.6:7. É melhor sofrer uma perda pessoal do que  expor o santo nome de Deus à blasfêmia pelos incrédulos; afinal, Ele é  poderoso para suprir  cada uma das nossas necessidades, Fl.4:19.
           
2. Atos de Malvadeza. Enganar o comprador através de produtos inferiores ou medidas falsas é uma manifestação comum de roubo popular. Mas o furto, seja qual for a sua expressão, é sempre uma malvadeza, pois revela a perversidade que está no coração do pecador. Resposta. Deus proíbe a “falsificação de peso, de medida, de mercadorias e de moeda, seja por juros exorbitantes ou por qualquer outro meio proibido por Deus. Também proíbe toda avareza, bem como todo abuso e desperdício de suas dádivas”.
            a) A lei reconhece a corrupção da natureza humana, por isso condena o roubo através de medidas falsas. “Dois pesos e duas medidas são abomináveis ao Senhor” Pv.20:10,23; Dt.25:13-16. Aquele que engana a seu próximo desta maneira vai perder no Dia do Juízo, porque a Bíblia afirma: “Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também” Mt.7:2.
            b) Outra forma de roubo é a retenção de mercadorias ou salários, a fim de alcançar um lucro maior. “Não oprimirás o teu próximo, nem o roubarás; a paga do jornaleiro não ficará contigo até pela manhã” Lv.19:13; Tg.5:4.
            c) A agiotagem é uma das maneiras mais cruéis de oprimir o pobre, pois este não consegue pagar os juros exorbitantes, Ex.18:10-13. Uma das marcas do amor cristão é que este empresta o seu dinheiro sem esperar retorno, Sl.15:5; Lc.6:35.
            d) Deus proíbe toda avareza, este excessivo e sórdido apego ao dinheiro. Por que essa proibição? “Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” ITm.6:10. O avarento é sempre orgulhoso, e isso Deus não aceita. I Pe.5:5. Além destes perigos, aquele que tem apego ao dinheiro tende a depositar toda a sua confiança nele e, fazendo assim, perde a possibilidade da vida eterna. I Tm.6:17; Tg.2:6-7.
            e) O desperdício de recursos. As coisas boas desta vida, tais como alimentos, vestuário e dinheiro, são dádivas de Deus, portanto, têm de ser usados e administrados para a glória de Deus e o bem do próximo. O profeta faz uma pergunta oportuna: “Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz?” Is.55:2. Muitas vezes, este gasto desnecessário em coisas supérfluas prejudica a salvação do aliciado, pois ninguém pode servir a dois senhores, Mt.6:24. Como podemos alcançar aquilo que realmente satisfaz os nossos anseios? O Senhor Deus é que responde: “Inclina os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi” Is.55:3.
           
3. Atos de Malandragem. A ociosidade é a causa de muitas formas de malandragem. Todos têm necessidade de comer, inclusive o ocioso; e quando este não quer trabalhar, porém, do mesmo jeito, quer desfrutar dos bens desta vida, o que ele faz? Lança mão sobre os bens de outros. Pergunta. “Mas o que Deus ordena nesse mandamento?” Resposta. “Devo promover, tanto quanto possível, o bem do meu próximo e tratá-lo como quero que outros me tratem. Além disso, devo fazer fielmente o meu trabalho para que possa ajudar ao necessitado”. Promover o bem através de um trabalho honesto é a glória do homem. Por isso, a Bíblia insiste no cumprimento de princípios cívicos: “Lembra-lhes que se sujeitem aos que governam, às autoridades; sejam obedientes, estejam prontos para toda boa obra, não difamem a ninguém; não sejam altercadores, mas cordatos, dando provas de toda cortesia, para com todos os homens”. Tt.3:1-2.
            O problema de pequenos furtos. “Aquele que furtava, não furte mais; antes, trabalhe fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado”. Ef.4:28 Possivelmente, o Apóstolo estava pensando nos escravos, uma classe notoriamente desonesta. Não praticavam grandes furtos, apenas os objetos pequenos que ninguém sentia falta. Mas, no texto, observemos a ênfase. Independente do passado, aquele que agora é crente em Jesus Cristo, tem esta ordem: “Não furte mais”. No passado, era tão fácil praticar estes pequenos furtos, ninguém ficava sabendo; mas agora, na vida cristã, a tentação continua. A melhor maneira para modificar esta tendência é trabalhar honestamente. Em vez de sermos controlados pelo egoísmo, praticamos o altruísmo. É isto que agrada a Deus. Evitemos as formas de preguiça, pois este é o testemunho do cristão. 2 Ts.3:7-8.

O SÉTIMO MANDAMENTO



“Eu sou o Senhor teu Deus... Não adulterarás” Ex.20:2,14.

            O que significa isto? Devemos temer e amar a Deus, pois Ele é nosso Legislador. “O Sétimo Mandamento exige a conservação da nossa própria castidade, e do nosso próximo, no coração, nas palavras e nos costumes” Resposta 71 do Breve Catecismo. A sexualidade humana é dom de Deus e parte essencial da nossa constituição. Mas, como aconteceu com todas as demais áreas da nossa vida, ela também ficou desfigurada e corrompida de tal forma, que tem pouca semelhança com o estado original. Por isso, a Bíblia tem tantas advertências contra o mau uso desta parte do nosso corpo. “Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação, que vos abstenhais da prostituição, que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e honra,... porquanto Deus não nos chamou para a impureza e sim para a santificação” ITs.4:3-7. Neste contexto, “santificação” significa separação do modelo deste século, a fim de estarmos prontos para obedecer a Deus, isto é, praticar uma pureza sexual e uma consciente abstenção de todas as formas errôneas de comunicação moral, pois compete a cada pessoa possuir e subjugar todas as suas potências e, especificamente, a tendência sexual, à pratica da vontade de Deus. O abuso dos membros sexuais do nosso corpo é extremamente prejudicial em todos os sentidos. “Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo (não prejudica tanto); mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o seu próprio corpo”, isto é, prejudica a totalidade de seu bem-estar e, muitas vezes, de uma maneira irreparável, por exemplo: doenças venéreas, crianças indesejadas, destruição de famílias, brigas, mortes e reprovação de Deus. Portanto, “fugi da imoralidade” I Co.6:18. Tentaremos responder, de uma maneira sucinta e prática, três perguntas de suma importância.
            a) Qual foi a finalidade original do ato sexual? Sem comentar sobre as ênfases seculares, a Bíblia ensina, de maneira implícita, que o ato sexual é para fins de procriação. Quando Deus ajuntou homem e mulher, eles receberam esta ordem: “Sede fecundos, multiplicai-vos...” Gn. 1:28. O início de uma nova vida se dá através do ato sexual. A história de Onã é ilustrativa da santidade deste propósito original. Este homem tinha a responsabilidade de cumprir “o levirato e suscitar a descendência” a seu irmão; coabitou várias vezes com a viúva, porém, “deixava o sêmen cair na terra, para não dar descendência a seu irmão”. Ele desperdiçou o sêmen, e este ato “era mal perante o Senhor, pelo qual também a este fez morrer” Gn.38:1-10. O sêmen é sagrado e deve ser respeitado, pois há vida nele. Qualquer ensino sobre a sexualidade humana deve enfatizar este princípio.
            b) De todos os apetites humanos, por que o dom da procriação ficou tão deturpado pelo pecado? O ato sexual tem a potência de dar início a uma nova vida, que nascendo, será um ser humano, criado à imagem de Deus. Que mistério e maravilha! No jardim do Éden, Adão e Eva receberam uma ordem específica: “De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” Gn.2:16-17. Por que Satanás quis que o casal comesse da árvore proibida? Ele quis ver a morte, a ruína destes seres criados à imagem de Deus. É significativo observar que o segundo pecado registrado na Bíblia é o homicídio, Gn.4:8. Mas, apesar da transgressão, Deus não permitiu uma destruição total, um remanescente seria poupado através da soberana redenção, e, com isto, o atrevido plano de Satanás ficaria frustrado. Contudo, o seu ódio continua em toda a sua fúria maligna, por isso, ele agora se dirige contra a fonte da vida humana, a sua sexualidade. Pelo pecado de Adão, Satanás conseguiu corromper o uso santo deste dom de Deus. O que ele não alcançou no jardim do Éden, ele agora obtém pela perversão sexual. Qualquer ato de imoralidade, inclusive o sexo antes do casamento, é uma afronta à santidade de Deus e um desrespeito ao corpo humano. E o transgressor paga caríssimo por sua desobediência.
            c) Como podemos subjugar a tendência sexual à pureza ensinada nas Escrituras Sagradas? Embora não seja sempre fácil, a resposta é o domínio próprio. Através do dom do Espírito Santo, Deus nos deu recursos para vencer as inclinações pecaminosas. “Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne” Gl.5:16. A ordem é esta: “Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza ...” Cl.3:5. É pelo poder do Espírito Santo que conseguimos mortificar os efeitos do corpo, Rm.8:13. O Catecismo de Heidelberg nos oferece outras orientações de valor inestimável.
        
I. O Perigo do Sexo Culposo.  Devemos levar a sério as restrições impostas sobre a sexualidade humana. A pessoa que desrespeita estas leis divinas torna-se vítima do seu próprio pecado: “Como o boi que vai para o matadouro – como a ave que se apressa para o laço sem saber que isto lhe custará a vida”. A casa da prostituição “é caminho para sepultura e desce para as câmeras da morte” Pv.7:1-27.  Pergunta 108.  “O que o Sétimo Mandamento nos ensina?” Resposta. “Toda impureza sexual é amaldiçoada por Deus. Por isso, devemos detestá-la profundamente e viver de maneira pura e disciplinada, sejamos casados ou solteiros”. Observemos:
            a) A atitude de Deus diante da perversão sexual. Talvez a imoralidade seja o pecado mais condenado na Bíblia. Os transgressores do Sétimo Mandamento são tão rejeitados por Deus, que a Escritura afirma: “Não vos enganeis: nem impuros, nem efeminados, nem sodomitas,... (perversões sexuais) herdarão o reino de Deus” ICo.6:18, 6:9-10. O conselho é: “Fugi da impureza”.
            b) Qual deve ser a nossa atitude diante da perversão sexual? “Devemos detestá-la profundamente”. Esta rejeição envolve uma desassociação com tudo o que apresente formas diferentes de imoralidade, filmes, revistas, conversas, etc. É impossível conciliar uma das contradições mais comuns dos nossos dias. Com a boca, o cristão afirma: Detesto a perversão sexual; porém, com os olhos, assiste um filme pornográfico. “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes”
 I Co.15:33. Ninguém fica isento das conseqüências das más comunicações, pois aquilo que o homem semear (ou permitir entrar na sua vida), isto também ceifará, Gl. 6:7.
            c) Qual deve ser nosso procedimento em relação à nossa própria sexualidade? Devemos “viver de maneira pura e disciplinada, sejamos casados ou solteiros”. A Confissão de Fé tem uma verdade importante: “Deus dotou a vontade do homem com tal liberdade natural, que ela nem é forçada para o bem nem para o mal, nem a isso determinada por qualquer necessidade absoluta de sua natureza”. Cap.9:1. Ninguém pode dizer: Fui obrigado a fazer sexo, a natureza me obrigou. Somos responsáveis diante de Deus por nossas atividades, pois podemos rejeitar os impulsos da nossa natureza. O problema do sexo não se limita aos solteiros; os casados também têm de lidar com esse assunto. Mas, para todos, a resposta é uma disciplina pessoal.

2. O Perjúrio do Sexo Culposo. Existe muita mentira relacionada com a sexualidade humana. Nós não fomos criados para seguir a nossa própria vontade; antes, Deus nos constituiu como seus servos, a fim de obedecê-Lo. Vivemos teocentricamente e não antropocentricamente. Pergunta 109. “Mas Deus, nesse mandamento, proíbe somente o adultério e outros pecados vergonhosos?” Resposta. “Não, pois como nosso corpo e nossa alma são templos do Espírito Santo, Deus quer que os conservemos puros e santos.”
Ninguém é propriamente livre, porque, quer ou não quer, estamos sempre servindo algo fora de nós mesmos. Se oferecermos os membros do nosso corpo para servir os interesses do pecado, então, somos escravos do pecado; mas, por outro lado, se oferecermos os membros do nosso corpo para os interesses da justiça, então, somos servos da justiça, Rm.6:16-18. Há duas possibilidades de serviço neste contexto:
a) O uso negativo do nosso corpo. Na área do sexo, o Apóstolo afirma: “Ou não sabeis que o homem que se entrega à prostituta forma um só corpo com ela? Porque, como se diz: serão os dois numa só carne” I Co.6:16. Não podemos entregar o nosso corpo às várias formas de imoralidade, quer sejamos casados ou solteiros.
b) O uso positivo do nosso corpo. Se nós somos salvos por Cristo Jesus, o ato mais sublime em culto é apresentar o nosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, Rm.12:1. O nosso corpo redimido é santuário do Espírito Santo que habita em nós. Não pertencemos a nós mesmos, porque fomos comprados por preço. Agora, pesa sobre nós o dever incomparável de glorificar a Deus em nosso corpo.

3. O Percurso do Sexo Culposo. Ninguém cai na imoralidade por acaso, há sempre um percurso bem distinto a seguir. Resposta. “Por isso, Ele (Deus) proíbe todos os atos, gestos, palavras (namoro exagerado), pensamentos e desejos impuros e tudo o que possa atrair o homem para tais pecados”. Temos capacidade tanto para ouvir como também para fazer comunicações torpes. Em ambos os casos, o caminho está sendo aberto para a imoralidade. “É inevitável que venham escândalos, mas ai do homem (ou mulher) pelo qual vem o escândalo” Mt.18:7. Não é apenas a pessoa que olhar para uma outra “com intenção impura, no coração” que fica culpada de adultério, mas também, aquela que provoca este “olhar apegado” através de roupas sensuais, gestos insinuantes ou palavras sugestivas. Em vez de sermos um tropeço para os desavisados, sejamos altruístas a ponto de não causarmos o pecado de outrem. Em algumas coisas, é melhor ser radical em nosso procedimento, a fim de não sermos, corpo e alma, lançados no inferno, Mt.5:27-30. “Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça” Rm. 6:17-18.

O SEXTO MANDAMENTO



“Eu sou o Senhor teu Deus... Não matarás” Ex. 20:2,13.

            O que significa isto? Devemos temer e amar a Deus, pois Ele é o nosso Legislador. “O Sexto Mandamento exige todos os esforços lícitos para conservar a nossa vida e a dos nossos semelhantes” Resposta 68 do Breve Catecismo. No estudo deste e dos demais do Decálogo, é necessário que observemos a 2ª Regra contida na Resposta 99 do Catecismo Maior. “Que a lei é espiritual, e assim se estende tanto ao entendimento, à vontade, às afeições e a todas as outras potências da alma, quanto às palavras, às obras e ao procedimento, Rm.7:14; Mt.22:37-39; 12:36-37.” Cristo reconheceu a abrangência deste princípio quando comentou o Sexto Mandamento, afirmando que as atitudes da alma, tais como ira, insultos, e zombarias, são aspectos da transgressão deste mandamento, e recebem igual castigo, “o inferno de fogo”Mt.5:21-22
           
1. A Exposição do Mandamento.  Parte do fruto do Espírito Santo é o “domínio próprio”. Pelo poder do Espírito de Deus, que habita em todos que crêem em Jesus Cristo, temos forças para controlar nossas reações diante das circunstâncias negativas desta vida. O nosso lema é: “Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” Zc.3:6. Ou, nas palavras do Apóstolo: “Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação” 2Tm.1:7. Pergunta 105. “O que Deus exige no Sexto Mandamento?” Resposta. “Eu não devo desonrar, odiar, ofender ou matar meu próximo, por mim mesmo ou através de outros. Isso não posso fazer nem por pensamento, palavras ou gestos e muito menos por atos. Mas devo abandonar todo desejo de vingança, não fazer mal a mim mesmo ou, de propósito, colocar-me em perigo. Por isso as autoridades dispõem das armas para impedir homicídios.”
            Na exposição deste mandamento, o Catecismo de Heidelberg nos aponta para cinco possíveis áreas de transgressão desta lei.
            a) Atitudes negativas de gênio. Quantas vezes se ouve: “Eu não consigo me controlar!” Esta falta de domínio próprio pode ser a característica do “gênio”, porém, não é típica do crente em Cristo Jesus. Este se revestiu do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade, Ef.4:17,24. Atitudes tais como desonrar, odiar e ofender são, muitas vezes, os elementos que precedem o ato mais sério, o de matar, Mt.5:21-22; I Jo.3:15. Não apenas a agressão física é condenada no Sexto Mandamento, mas também o mau gênio que a precede. A pessoa que manda matar alguém é réu do próprio crime, 2 Sm.12:9.
            b) Atitudes de agressão mental, verbal e física não podem ser escondidas dos olhos penetrantes do Deus que sonda e conhece o que se passa no coração do homem, Sl.44:21; Pv.4:23; Mc.7:21.
            c) Atitudes de vingança, tomando a lei em suas próprias mãos, pagando o mal com o mal. Este pecado é condenado em ambos os Testamentos. Vingança é um atributo que pertence exclusivamente à jurisdição divina. “A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor” Lv.19:18; Rm.12:19. Este pecado é especialmente afrontoso, porque despreza as autoridades que foram instituídas por Deus para executar a vingança, Rm.13:4.
            d) Atitudes de desrespeito à própria vida. Há muitas maneiras para desrespeitar a própria vida: glutonaria, bebedeira, alimentos que prejudicam a saúde, narcóticos; e, devemos mencionar os chamados “esportes radicais”, que estão se tornando tão populares em nossos dias. A vida é dom de Deus e deve ser valorizada e preservada para a glória de Deus, 1Co. 6:19-20. O suicídio é também a transgressão do Sexto Mandamento, Gl.5:19-21; Tm.1:8-11. Os nossos Catecismos dão uma lista dos pecados proibidos por este mandamento. Veja a Resposta 136 do Catecismo Maior.
            e) É interessante como o Catecismo de Heidelberg faz repetidas referências às autoridades como os ministros de Deus. “Por isso as autoridades dispõem das armas para impedir homicídios” Gn.9:6; Ex.21:14; Rm.13:4.
           
2. A Expressão do Mandamento. Temos de reconhecer as multiformes expressões do homicídio. Tudo começa no coração, através de atitudes repreensíveis. “Cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado, e o pecado, uma vez consumado, gera a morte” Tg.1:14-15. Pergunta 106. “Esse Mandamento trata somente de matar?” Resposta. “Não, proibindo o homicídio, Deus nos ensina que Ele detesta a raiz do homicídio, a saber: a inveja, o ódio, a ira, e o desejo de vingança. Ele considera tudo isso homicídio”. O Catecismo fala da “raiz do homicídio”, porque o ato da agressão é a realização de algo que já existia no coração. Portanto, estes são os elementos que têm de ser eliminados a fim de evitar o derramamento de sangue.
            a) O problema da inveja. O que é inveja? O Dicionário Aurélio define: “Desgosto ou pesar pelo bem ou pela felicidade de outrem. Desejo violento de possuir o bem alheio”. Este “sentimento” sempre produz uma atividade negativa. Alguns dos crimes mais atrozes começaram com uma simples inveja. Veja algumas colocações bíblicas: “O ânimo sereno é a vida do corpo, mas a inveja é a podridão dos ossos” Pv.14:13. “Cruel é o furor, e impetuosa, a ira, mas quem pode resistir à inveja?” Pv.27:4. “Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras. Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade” Tg.3:13-14. Inveja é extremamente prejudicial, I Tm.6:3-5. Por que os patriarcas venderam seu irmão? Por causa da inveja, At.7:9. Porque Jesus foi entregue a Pilatos? Por causa da inveja, Mt.27:18. Porque os judeus blasfemavam e contradiziam o que Paulo falava? Por causa da inveja, At.13:45. Cristo nos deu um bom princípio para seguir: “Limpa primeiro o interior do corpo (coração), para que também o seu exterior fique limpo” Mt.23:26.
            b) O problema do ódio. “Paixão que impele a causar ou desejar mal a alguém. Aversão a pessoa, desprezo, repulsão” Dicionário Aurélio. A Bíblia é enfática quando revela a verdadeira natureza do ódio: “Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino; ora, vós sabeis que todo assassino não tem a vida eterna permanente em si” I Jo.3:15. Ódio é uma das manifestações mais marcantes da nossa natureza deformada pelo pecado. “Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros” Tt.3:3. Somos agradecidos, porque dentro desta deploração, Deus manifestou a sua benignidade, Tt.3:4-7.
            c) O problema da ira. Ira, em sua primeira manifestação, não é necessariamente um sentimento pecaminoso. Somos emotivos, reagimos diante dos acontecimentos desta vida. Uma benção recebida da mão de Deus é motivo de grande alegria e ações de graça; porém, quando recebemos ou testemunhamos uma injustiça, sentimos uma ira nascendo no coração, uma santa repulsa do ato. Se não tivéssemos esta reação, como poderíamos dizer que tememos a Deus e rejeitamos o pecado? O problema não está na reação contra as injustiças; é a ira descontrolada que causa a transgressão do Sexto Mandamento. Por isso, a advertência bíblica: “Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo” Ef. 4:26-27. Uma ira prolongada pode se degenerar em pecado culposo. Quando nos sentimos movidos pelas injustiças, a reação certa é: lançar sobre Deus toda a nossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de nós, 1 Pe.5:7.
            d) O problema da vingança. Basta lembrar que a vingança pertence exclusivamente a Deus, Rm.12:19. O ato de nos vingarmos a nós mesmos nos faz culpados do Sexto Mandamento. Deus considera tudo isso homicídio.
           
3. A Expedição do Mandamento.  É importante observar a 4ª Regra contida na Resposta 99 do Catecismo Maior: “Onde um dever é ordenado, o pecado contrário é proibido; e onde o pecado é proibido, o dever contrário é ordenado; assim, onde uma promessa está anexa, a ameaça está inclusa; e onde a ameaça está anexa, a promessa contrária está inclusa.” Neste espírito, o Catecismo de Heidelberg orienta: Pergunta 107.  “Mas é suficiente não matar o nosso próximo?” Resposta.  “Não, porque Deus condena a inveja, o ódio, e a ira, manda que amemos nosso próximo como a nós mesmos e mostremos paciência, paz, mansidão, misericórdia e gentileza para com ele. Devemos evitar seu prejuízo, tanto quanto possível e fazer bem até aos nossos inimigos.” Eis a nossa expedição, somos enviados para que os homens vejam as nossas boas obras e glorifiquem a nosso Pai que está nos céus, Mt.5:16. Não é suficiente uma mera limpeza, só deixando de revelar atitudes negativas; a nossa vida tem de ser remobiliada com novas atitudes, Lc.11:24-26.
            A Bíblia nos apresenta vários contrastes, a fim de inculcar certos princípios inegociáveis. É Cristo em nós que faz a diferença: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as cousas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” 2 Co. 5:17. O homem natural, em seu estado adâmico, sem Deus e sem esperança, vive projetando a sua inveja, ódio e ira contra todos; porém, aquele que se revestiu de Cristo, já se despojou do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano; e se revestiu do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade, Cl.4:22-24. O fruto do Espírito é contrastado com as obras da carne. Portanto, “os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito.” Gl.5:16-25. Uma parte do cumprimento do Sexto Mandamento consiste em atos positivos; além de não prejudicar a vida do nosso próximo, fazemos o tanto quanto possível para o seu bem, inclusive até aos nossos inimigos, Mt.5:43-48; Rm.12:17-21.         

O QUINTO MANDAMENTO


“Eu sou o Senhor teu Deus... Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus te dá” Ex.20:2,12.

            O que significa isto? Devemos temer e amar a Deus, pois Ele é o nosso Legislador. “O Quinto Mandamento proíbe negligenciarmos a conservação da honra e o desempenho dos deveres pertencentes a cada um em suas diferentes condições e relações, como superiores, inferiores, ou iguais” Resp. 64 do Breve Catecismo. Observemos que a honra requerida neste mandamento não se limita aos nossos genitores, pai e mãe. Foi o Ap. Pedro que deu a síntese desta palavra: “Tratai todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei” 1Pe. 2:17. Ou, do Ap.Paulo: “A ninguém fiqueis devendo cousa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei... O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor” Rm.13:8-10.
            Antes de proceder na exposição deste mandamento, convém relembrar o objetivo destes estudos.
 a) Estamos refletindo sobre a prática de boas obras. “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” Ef. 2:10. Estas boas obras que Deus prescreveu são as suas leis; e tornamo-nos praticantes das mesmas através da nossa obediência ao que Deus determinou. Esta submissão é altamente espiritual, porque obedecemos a preceitos específicos, sabendo que são as normas que Deus, de antemão, preparou para o nosso procedimento entre os povos. Quando os judeus perguntaram a Jesus: “Que faremos para realizar as obras de Deus?” Ele logo respondeu: “A obra de Deus é esta: que creias naquele que por ele foi enviado” Jo.6:28-29. Crer e obedecer são a chave: crer que as leis regularizadoras foram dadas para que andássemos nelas. Observando estas normas, estamos realizando as obras de Deus.
b) O Quinto Mandamento dá início às leis escritas na segunda tábua dos Dez Mandamentos. As primeiras quatro contém os nossos deveres para com Deus; e as outras seis, os nossos deveres para com o homem. “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras (a vossa submissão às leis de Deus) e glorifiquem  a vosso Pai que está nos céus” Mt.5:16.
           
1. A Distinção desta Honra. Todos os seres humanos, por serem criados à imagem de Deus, são dignos de receberem a devida honra e respeito: e, com uma distinção especial, os nossos genitores. Pergunta 104. “O que Deus exige no Quinto Mandamento?” Resposta. “Devo prestar toda honra, amor e fidelidade a meu pai, a minha mãe e a todos os meus superiores.”
            a) O que significa honrar os meus genitores? Como filhos e filhas, honramos os nossos pais através de testemunhos que expressem o nosso amor para com eles, isto inclui o acatamento de todas as suas instruções (obviamente no temor do Senhor e obediência a Ele em primeiro lugar, pois o nosso dever aos pais não pode contrariar a vontade revelada de Deus), At.4:19-20. Quando Jesus falou de seu relacionamento com o Pai, Ele disse: “E aquele que me enviou está comigo, não me deixou só, porque eu faço sempre o que lhe agrada” Jo.8:29. Assim, devemos honrar os nossos pais, fazendo sempre o que lhes agrada, “pois fazê-lo é grato diante de Deus” Cl.3:20. A nossa tranqüilidade emocional, a nossa realização pessoal, e até a honra do nosso nome, dependem deste respeito e amor aos nossos pais, Pv.20:20.
            Quando Cristo comentou sobre esta honra que os filhos devem a seus genitores, Ele deu uma ênfase sobre o cuidado que eles devem receber na velhice, Mt.15:1-6; 1Tm.5:4. Os filhos que fogem desta responsabilidade, seja qual for a desculpa, são réus de maledicência contra seus pais, pois estão lamentando a existência deles e as inconveniências que lhes causam. Em nossos dias de individualismo, o Quinto Mandamento deve ser inculcado na vida dos mais novos. No Antigo Testamento, os filhos que maltrataram a seus pais eram condenados à morte. Deus não inocenta os transgressores do Quinto Mandamento, Ex.21:15,17.
            b) O que significa honrar os nossos superiores? A vontade de Deus é que a nossa sociedade tenha uma estrutura de organização, composta de governadores e de súditos, cada um exercendo a sua vocação no temor de Deus. O primeiro exemplo é da própria família: o marido é o cabeça, a esposa se submete a ele, e os filhos obedecem ao pai e à mãe. Um estabelece as normas, e todos, pai, mãe e filhos, andam de acordo. Ênfase especial é dada à esposa: “Esposas, sede submissas ao próprio marido, como convém no Senhor”. Depois, os filhos: “Filhos, em tudo obedecei a vossos pais, pois fazê-lo é grato ao Senhor”.Mas qual é a responsabilidade imediata do marido? “Maridos, amai vossa esposa, e não a trateis com amargura”. E qual é o dever dos pais para com seus filhos? “Pais (ambos), não irriteis os vossos filhos (com excesso de exigências), para que não fiquem desanimados.” Uma boa estrutura familiar é sempre benéfica; mas para que isso aconteça, “acima de tudo, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição” Cl.3:12-21.  
            O segundo exemplo é a organização das famílias em comunidade, uma instituição que cuida dos interesses coletivos. Mas o mesmo princípio permanece: submissão às autoridades superiores. As normas de procedimento para todos foram prescritas na Bíblia. É importante observar a colocação do Apóstolo quanto à origem divina destas autoridades: “Porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por Ele instituídas” Rm.13:1-7. De modo geral, obediência às autoridades é obediência a Deus. Veja o versículo 2.
           
2. A Disposição desta honra.  Resposta. “Devo submeter-me à boa instrução e disciplina (de meus pais) com a devida obediência, e também ter paciência com seus defeitos.” Esta “boa instrução” é aquele ensino que está de pleno acordo com a manifestação da vontade de Deus. Tal revelação está presente nas obras da criação e, de uma maneira mais completa e inerrante, nas Escrituras Sagradas. Tudo é útil para nos conduzir à maturidade e à melhor compreensão da vontade de Deus.
            a) A necessidade desta instrução. Todos nós entramos no mundo limitados pela imaturidade. Todavia, de acordo com a sabedoria divina, vencemos estas restrições através da instrução teocêntrica. Os nossos primeiros instrutores são os genitores. E, para alcançar os devidos objetivos, eles usam palavras de orientação, correções e, quando necessário, castigo, pois o importante é que os filhos aprendam, Hb.12:10. As repetidas exortações são: “Filho meu, ouve o ensino de teu pai e não deixes a instrução da tua mãe” Pv.1: 8; 4:1-2.
            Em segundo lugar, a Igreja, através do ensino de seus ministros, é dotada com os dons necessários para auxiliar os pais, para que seus filhos cheguem “à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” Ef.4:11-14;
            b) A necessidade de paciência com os nossos instrutores. Todos nós, mestres e alunos, somos cercados por limitações impostas pelo pecado. O mestre nem sempre tem a devida paciência com seus alunos, e estes, da mesma forma, nem sempre têm o devido respeito para com seus superiores. A palavra chave é paciência. “Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem” Cl.4:12-14. A disposição desta honra pressupõe a devida compreensão das falhas que caracterizam a natureza humana.
        
3. A Discrição desta Honra.  Resposta. “Porque Deus nos quer governar pelas mãos deles,” pelas mãos de nossos superiores. Deus tem a sua própria maneira de executar os seus propósitos entre a humanidade. Sabemos que Ele tem as milícias celestiais à sua disposição, todos prontos para realizar a sua menor vontade. Porém, para lidar com os homens, Ele usa pessoas, da mesma constituição carnal. Uma das vantagens deste sistema é que ninguém pode reclamar que a exigência é sobre-humana; tudo o que acontece está dentro da possível experiência humana.
            Deus quer que nossos filhos sejam instruídos, e Ele usa pais para lhes dar as primeiras lições. Em todo o processo de instrução, homens capacitados são os instrumentos nas mãos de Deus.
            De modo semelhante, Deus quer que os homens, em coletividade, sejam governados, é para isso que as autoridades foram constituídas. Este princípio: “Deus nos governa pelas mãos de homens” é tão real e sério, que a Bíblia afirma: “A autoridade é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal” Rm.13:1-4.
            Como ministros de Deus, as autoridades têm a responsabilidade, diante de Deus, de exercer e impor a justiça; e, semelhante, os governados têm a responsabilidade de mantê-los, através do pagamento dos devidos impostos, Rm.13:5-7.
            A promessa do Quinto Mandamento: “Para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá,” não se refere à longevidade, visto que o número de anos, poucos ou muitos, é comum a todos os povos, independente de seu procedimento espiritual. A promessa se refere a Israel em Canaã. A obediência seria recompensada com permanência na terra; do contrário, seria desterrado, Lv.26:14-23.
            Se a honra mútua e o honesto comportamento estiverem presentes no meio das famílias, estarão também presentes nas sociedades maiores. E qual será o fruto desta obediência ao Quinto Mandamento? Segurança e tranqüilidade. Eis a esperança nesta promessa, estabilidade, pois as conseqüências da instabilidade são extremamente cruéis. Porém, reconhecemos que esta paz prolongada vem somente através do ministério do Príncipe da Paz, Jesus Cristo. A sua ordem é: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho (o evangelho da paz, Ef.6:15) a toda criatura” Mc.16:15.